Chuva impacta planejamento de triticultor

Chuva impacta planejamento de triticultor

Clima pode dificultar desenvolvimento de plantas e colheita, e técnicas de manejo e conservação do solo ganham destaque

Patrícia Feiten

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Depois das chuvas prolongadas da semana passada em diversas regiões do Rio Grande do Sul, produtores rurais aproveitam a trégua do clima para dar continuidade ao plantio do trigo. A preocupação é que as chuvas frequentes – que tendem a se intensificar nos próximos meses com o provável retorno do fenômeno El Niño, indicado pelos serviços de meteorologia – reduzam os intervalos para o trabalho no campo e prejudiquem o desenvolvimento das plantas, trazendo dificuldades inclusive na etapa posterior, de colheita.

Na área de abrangência da cooperativa C. Vale, que atende mais de 1,5 mil produtores em municípios do noroeste e do sul gaúcho, a chuva vem dificultando não apenas a semeadura do trigo, mas também os trabalhos de manejo, como a aplicação de adubação nitrogenada e o controle de espécies daninhas, segundo o gerente técnico da organização, Carlos Konig. “Você não consegue pegar as plantas no estágio mais sensível, com a planta bem pequena, isso acaba prejudicando o produtor”, explica o executivo.

Segundo Konig, os produtores ligados à cooperativa já realizaram de 50% a 80% do plantio e os trabalhos devem ser concluídos até o final desta semana. “Fica muito pouco do trigo para ser plantado no mês de julho”, relata. “A preocupação maior é ter problemas na colheita, com a chuva. Mas, demorando um pouquinho mais para plantar, eu fujo do risco de geada no (estágio) que a gente chama de emborrachamento”, detalha o dirigente, referindo-se à fase final do período vegetativo do trigo.

O assistente técnico estadual em culturas da Emater/RS-Ascar, Alencar Rugeri, diz que a perspectiva de grandes volumes de chuva neste inverno impõe ao agricultor um escalonamento forçado do plantio. “O que as chuvas estão fazendo é atrapalhar o planejamento do produtor”, observa. O técnico lembra que, no ano passado, a chuva ocasionou atrasos na semeadura do trigo, mas as condições climáticas no restante do ciclo foram favoráveis ao desenvolvimento da cultura. Na temporada atual, mesmo pequenos volumes de chuva poderão significar transtornos. “A umidade (no solo) persiste, porque tem uma baixa evaporação e isso causa uma dificuldade para a realização das atividades”, explica Rugeri.

Para se precaver contra prejuízos na lavoura, o técnico recomenda atenção redobrada às estratégias de conservação de solo, como o plantio em nível. “Com a chuva, o solo fica vulnerável em função da pouca cobertura que tem. A nossa preocupação hoje é esta, a vulnerabilidade nesse período entre a implantação e o estabelecimento da cultura”, destaca Rugeri.


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