Chuva persistente ameaça desenvolvimento do trigo

Chuva persistente ameaça desenvolvimento do trigo

Com fenômeno prolongado, entidades de agricultores temem aumento de doenças fúngicas e perda de qualidade de grãos

Patrícia Feiten

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Além de atrasar a semeadura de culturas de verão, como o milho e o arroz, as chuvas intensas estão sinalizando uma ameaça às culturas de inverno no Rio Grande do Sul. Embora considerem que é cedo para projetar perdas decorrentes dos grandes volumes de chuva já registrados nas regiões produtoras do cereal, lideranças dos agricultores avaliam que a sequência de dias úmidos poderá prejudicar o desenvolvimento da cultura, com potenciais efeitos negativos na qualidade e na comercialização do cereal.

Segundo o coordenador da Comissão do Trigo da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Hamilton Jardim, as chuvas do início desta semana afetaram principalmente lavouras localizadas na metade norte gaúcha, mas ainda não é possível estimar danos. O maior risco, afirma, é o aumento da incidência de doenças fúngicas – com o fenômeno prolongado, os agricultores não conseguem entrar no campo para aplicar tratos culturais no momento adequado. “Essas doenças acontecendo principalmente no período de florescimento e início de formação do grão depreciam a qualidade e o preço do produto. E a previsão de mais chuva nesta semana é o cenário de que nós não gostaríamos, ainda mais que os preços estão baixos”, avalia Jardim.

No Rio Grande do Sul, de acordo com o último levantamento semanal na Emater/RS-Ascar, divulgado na quinta-feira passada, 32% das lavouras de trigo estavam em fase de germinação e desenvolvimento vegetativo, 49% se encontravam em floração e 18% já haviam iniciado a etapa de enchimento de grãos, com apenas 1% no estágio de maturação. A cotação média da saca de 60 quilos no Estado estava em R$ 59,69. Além do acamamento das plantas, outra preocupação do setor é que as enxurradas arrastaram e retiraram fertilizantes e adubos aplicados nas lavouras, explica o engenheiro agrônomo e técnico da Emater/RS-Ascar Alencar Rugeri. “Essa chuva levou muito nutriente embora, mesmo com o solo coberto. Isso reforça cada vez mais a importância de ter um solo coberto e bem-manejado”, diz.

Para o agrônomo, a triticultura vem vivenciando um ano atípico no Estado e a dimensão do impacto das chuvas dependerá da persistência da umidade. “Essa condição favorece doenças, é absolutamente prejudicial e vai tendo interferência no potencial de produção. A recomendação é que os agricultores tomem a melhor atitude assim que o clima permitir e fiquem muito atentos às informações sobre as condições climáticas”, observa.

No município de Cruz Alta, um dos principais produtores de trigo do Estado, o retorno da chuva nesta terça-feira após alguns dias ensolarados deixou os agricultores em estado de alerta. “Até o momento, pode-se dizer que a situação está tranquila. Daqui para a frente, preocupa não só nesta semana, mas no restante do mês, pois o trigo vai para um ciclo em que precisa de um clima mais moderado, se tiver excesso de chuva vai prejudicar”, diz o presidente do Sindicato Rural de Cruz Alta, Moacir Medeiros.


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