Chuvas isolam produtores rurais do RS

Chuvas isolam produtores rurais do RS

Plantações estão submersas e agricultores sem acesso à eletricidade, combustível e insumos

Correio do Povo

Acesso com bloqueio total na estrada que leva a Roca Sales e Imigrante

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“Estamos apavorados. Já passamos do medo. Vivemos uma catástrofe”. Assim o produtor rural e presidente da Comissão de Leite e Derivados da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Marcos Tang, definiu o atual momento vivido no Rio Grande do Sul. Também à frente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando) e da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac), o dirigente relata um cenário extremamente dificultoso nas áreas rurais afetadas pela chuva. Porém, não sem antes dizer que a prioridade, agora, é salvar vidas.

Com mais de 500mm de água, em 48 horas, nos municípios da Serra, do Vale do Taquari e do Vale do Rio Pardo, a maior dificuldade é o isolamento dos agricultores.

“Pessoas não acessam as propriedades. E quem está nelas não consegue sair”, diz Tang.

A falta de energia elétrica é outro grande desafio, especialmente para os produtores de leite, alimento que, obrigatoriamente, precisa ser resfriado após a ordenha. Além disso, falta combustível, já que muitas estradas estão bloqueadas por deslizamento ou inundadas.

“Tem verdadeiras montanhas sobre as estradas. Os produtores estão andando 15 quilômetros a pé para pegar óleo em galões menores e ordenham as vacas com racionalidade. Os que faziam três ordenhas por dia estão fazendo uma, porque não têm energia elétrica. Os tratores estão alimentando os geradores, mas não têm mais óleo”, explica o dirigente.

O secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande do Sul (Sindilat), Darlan Palharini, aponta que a dificuldade de obter insumos também é vista na região Noroeste do Estado. Mesmo que as precipitações não tenham sido tão intensas na tradicional área produtora de leite, há impedimento para a saída dos caminhões carregados das indústrias.

“Já tem problema de empresas com falta de insumos – porque não conseguem recolher o leite - e caminhão que não consegue sair com as mercadorias prontas”, afirma Palharini, referindo-se, aos bloqueios terrestres.

Lavouras de arroz estão inundadas

Ainda não é possível mensurar o impacto do clima na safra gaúcha de arroz, que responde por 70% da produção nacional do grão. Contudo, sabe-se que há diversas lavouras ainda não colhidas que estão completamente submersas, especialmente na região Central do Estado.

A área foi uma das mais atingidas pelas inundações e estava atrasada na colheita da safra 2023/2024 em relação às outras áreas produtoras do cereal. De acordo com o gerente da Divisão de Assistência Técnica e Extensão Rural do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Luiz Fernando Siqueira, até a semana passada, ainda faltavam cerca de 40% dos 118,1 mil hectares semeados.

Isso quer dizer que 71,36 mil hectares estavam colhidos na região, onde está está o município de Cachoeira do Sul, um dos principais produtores gaúchos de arroz.

"Precisamos que a água baixe para se ter uma ideia mais precisa do tamanho do prejuízo", comenta Siqueira.

A Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) divulgou nota oficial, solidarizando-se com os produtores. A entidade colocou-se à disposição e reiterou seu "compromisso em garantir a segurança alimentar do povo brasileiro, apesar das incontáveis dificuldades e instabilidades enfrentadas pelos produtores rurais".

Cautela nas avaliações

Lideranças de diversos setores da agropecuária ainda acham que é prematuro fazer avaliações sobre os prejuízos causados pela intensa chuva que ocorre no Rio Grande do Sul desde a segunda-feira. A maior preocupação, segundo a Emater/RS-Ascar é com a quantidade de grãos ainda a ser colhida, principalmente a soja na Metade Sul do Estado.

O presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, disse que é muito cedo para contabilizar perdas e que no momento a prioridade deve ser a "preservação das vidas humanas".
O presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, relatou que ainda não teve notícias de granjas independentes atingidas pela enchente. Entretanto, lembrou que, na primavera de 2023, alguns suinocultores foram afetados no Vale do Taquari. “No geral, porém, a maior parte das granjas não se localiza em regiões baixas, o que as protege de inundações", completou.


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