Clima pressiona cotações do arroz e feijão

Clima pressiona cotações do arroz e feijão

Impactada por fatores internos e externos, oferta dos dois produtos alimentícios mais populares no Brasil gera preocupação, avalia consultor

Patrícia Feiten

Arroz tem apenas uma colheita no Brasil, enquanto o feijão é cultivado no Brasil em três safras

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Principal tradição culinária do país, a dupla feijão com arroz encerrou dezembro com cotações em alta e incertezas em relação ao abastecimento interno desses itens ao longo de 2024. Problemas climáticos em regiões produtoras dos dois grãos e dificuldades em países exportadores de arroz impactaram a oferta em 2023, fazendo os valores do prato típico do brasileiro subirem. Para o analista Evandro Oliveira, da consultoria Safras & Mercado, a tendência é que o clima irregular contribua para manter os preços elevados no início deste ano.

No caso do arroz, o consultor explica que a valorização atual da commodity reflete a oferta menor, já que a safra 2022/2023 foi marcada por redução da área de cultivo do cereal e migração dos produtores para outras culturas consideradas mais rentáveis, como a soja, além de perdas decorrentes de estiagem no Rio Grande do Sul, principalmente na Fronteira Oeste. A alta também é explicada pelo bom ritmo das exportações brasileiras do grão, ainda que inferiores às de 2022 – de janeiro a novembro do ano passado, os embarques somaram 1,7 milhão de toneladas, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria do Arroz. “Devemos chegar em fevereiro com os menores estoques em aproximadamente 15 anos”, diz Oliveira.

O analista observa que a disparada de preços do cereal é um fenômeno mundial. Em julho passado, a Índia, principal exportador global da commodity, proibiu as exportações de arroz branco não basmati, em uma tentativa de conter a alta de preços internos. A Tailândia, segundo maior fornecedor, enfrenta uma seca que poderá reduzir sua oferta. “Neste momento, em plena entrada de safra no continente asiático, os preços seguem subindo. É o mundo dando sinais de que precisa de mais arroz e, no Brasil, o cenário não é diferente”, explica Oliveira.

Para o analista, o arroz “vive um momento único”, tanto que, em algumas regiões, suas cotações superam as da soja. No estado de Mato Grosso, líder no cultivo da oleaginosa, a saca de soja era cotada em média a R$ 130 na praça de Rondonópolis na quarta-feira (27 de dezembro), enquanto a saca do cereal estava em torno de R$ 160. Na região portuária de Pedro Afonso, em Tocantins, segundo Oliveira, os dois grãos eram negociados, respectivamente, nas faixas de R$ 129 e R$ 190 a saca. “A temporada pode nos reservar muitas surpresas, podendo até trazer novos recordes para o arroz. Uma queda (é esperada) somente com a entrada da colheita e de maiores volumes do Mercosul”, afirma.

Na cadeia produtiva do feijão, cultivado no Brasil em três safras, o consultor diz que a oferta sofre os efeitos do clima adverso tanto na Região Sul quanto em outros estados, como Minas Gerais e Bahia. “O mercado está com muita preocupação por conta dos atrasos da primeira safra, que podem prejudicar a janela de plantio para a segunda safra, em meados de abril, e isso vai se refletir nos preços”, destaca Oliveira. No Paraná, que já iniciou a colheita da primeira safra, a Secretaria da Agricultura estima perdas de 18% das lavouras em razão do excesso de chuvas atribuído ao fenômeno El Niño. “O Paraná é o principal fornecedor de feijão preto nesta época, então vamos depender ainda mais das importações da Argentina”, observa o analista.

Segundo Oliveira, há no mercado uma escassez generalizada de produto de melhor qualidade, o chamado feijão extra, com classificação 9 e 9,5, e isso vem mantendo os preços da mercadoria elevados. “O maior volume que tem chegado é produto com alto teor de umidade ou com muito ressecamento, nota 8,5 até nota 8. Com o início da colheita, esperava-se que o feijão extra fosse operar abaixo de R$ 300. Mas, na Bolsinha (atacado paulista), o carioca e o preto terminaram o ano empatados, ambos na faixa de R$ 345 por saca”, afirma o consultor.

As cotações no Estado

No Rio Grande do Sul, a saca de arroz de 50 quilos está em R$ 123,20; a de soja de 60 quilos é negociada a R$ 134,78, e a saca de feijão de 60 quilos é cotada a R$ 283,40, de acordo com levantamento da Emater/RS-Ascar de 28 de dezembro.

A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, aumentou 0,28% em novembro. No grupo alimentação e bebidas, que teve maior peso na alta, o arroz e o feijão preto foram alguns dos itens que mais subiram, respectivamente, 3,63% e 4,18%.


Correio do Povo
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