Cotação da saca do arroz avança 48,25% em 30 dias

Cotação da saca do arroz avança 48,25% em 30 dias

Indicador Esalq/Senar-RS fechou em R$ 100,46 ontem, marca explicada pelas exportações, estoques baixos e aumento do consumo neste ano

Cíntia Marchi

publicidade

As cotações da saca de 50 quilos de arroz em casca subiram 48,25% entre os dias 3 de agosto e 2 de setembro, passando de R$ 67,76 para R$ 100,46, segundo o indicador Esalq/Senar-RS. A valorização é consequência da redução da área de cultivo no ciclo 2019/2020, estoques baixos, desempenho das exportações e intensificação do consumo interno como efeito da pandemia do coronavírus. A conjuntura, que favorece os produtores depois de anos seguidos de safras não rentáveis, mexe com a indústria beneficiadora, que ampliará as importações.

Segundo estimativa do presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz), Alexandre Velho, de 20% a 30% dos produtores ainda têm o grão para negociar. Ele explica que são orizicultores capitalizados, que têm condição de fazer gestão dos estoques. A entidade, comenta Velho, vem orientando estes arrozeiros a manter o mercado abastecido. “Eles têm apenas uma parte da safra em mãos e a outra parte está com a indústria beneficiadora”, afirma o dirigente.

Diante do cenário, o diretorexecutivo do Sindicato da Indústria do Arroz no Estado (Sindarroz/RS), Tiago Barata, sustenta que a importação do grão passa a ser alternativa cada vez mais viável, mesmo com a cotação do dólar em patamares elevados. Segundo o Ministério da Economia, de janeiro a julho, as importações somaram 42,5 mil toneladas, enquanto que o volume dos embarques foi quase 10 vezes maior, de 408 mil toneladas.

A tendência, prevê Barata, é que ocorra uma inversão na balança comercial a partir de agora, com o volume de entrada do cereal maior que o de saída. “De certa forma, o setor industrial e varejista vinha absorvendo com naturalidade a valorização, que já era prevista”, observa Barata. “Mas esta intensificação muito grande e rápida das últimas semanas se descola de qualquer condição mais realista”, avalia o diretor-executivo.

Em nota, a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) afirma que o “descontrole” dos preços compromete a continuidade da atividade industrial e prejudica o consumidor, “diante do grave quadro social de saúde e desemprego atual”. Velho entende, no entanto, que o preço ao consumidor, que variou da faixa de R$ 3,00 a R$ 3,50 para a de R$ 4,00 a R$ 4,50 o quilo, não torna o produto inacessível. “Quem paga R$ 5,00 por um refrigerante não pode achar caro o quilo do arroz”, sustenta o dirigente.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895