Cotações do trigo seguem em declínio

Cotações do trigo seguem em declínio

Tendência é sustentada pela queda de preços no mercado internacional e pela grande oferta no Brasil, que deve colher safra recorde

Patrícia Feiten

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Preços em queda no mercado internacional – influenciados pela projeção de safra recorde na Rússia, um dos maiores produtores mundiais do cereal – e uma oferta farta no plano doméstico estão derrubando as cotações do trigo no Brasil. De acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), o produto vem sendo negociado no Paraná em torno de R$ 1,2 mil por tonelada, o menor patamar em valores nominais desde outubro de 2020.
No Rio Grande do Sul, segundo o analista Élcio Bento, da consultoria Safras & Mercado, os preços do trigo colhido em 2022 estão entre R$ 1.230 e R$ 1.240 a tonelada, enquanto lotes pequenos da safra deste ano são negociados em torno de R$ 1.100 a tonelada. Os agentes de mercado seguem pouco ativos, com negócios pontuais. “Temos o potencial de mais um recorde de produção (nacional). Com muito trigo internamente e trigo mais barato no mercado internacional, não há outro cenário que não seja de retração das cotações”, explica Bento.
A recente desvalorização do peso implementada pelo governo argentino terá pouco efeito no mercado de trigo brasileiro, avalia o analista. Isso porque a Argentina dispõe de poucos estoques de cereal da safra passada para exportar e a vitória do ultraliberal Javier Milei nas eleições primárias para a presidência do país tende a desestimular as vendas externas – o candidato promete suspender a cobrança das chamadas “retenciones”, imposto de 12% aplicado sobre o valor das exportações do grão. “Ninguém mais vai exportar se, no início do ano que vem, pode vender sem essas tarifações. O trigo da safra nova da Argentina deve vir com mais força a partir de dezembro. Se confirmada a mudança de governo, vai ficar muito mais concentrado no mercado interno”, avalia Bento.
O diretor-presidente do Moinho do Nordeste (de Antônio Prado), Valdomiro Cunha, lembra que no ano passado os preços internacionais do grão bateram os 500 dólares (R$ 2,4 mil) a tonelada após o início do conflito entre Rússia e Ucrânia. “Teve o efeito da guerra e agora os preços voltaram, digamos assim, para o normal”, afirma. Segundo o executivo, as indústrias moageiras estão com bons suprimentos e as atenções atualmente estão focadas no retorno do fenômeno El Niño, que sinaliza chuvas intensas a na primavera, quando começa a colheita do cereal. “Ainda há estoque de passagem no Rio Grande do Sul. O que preocupa é o clima, porque foi plantada uma área grande, a cultura vem se desenvolvendo bem e essa chuva, se ocorrer, vai ser bastante prejudicial à qualidade”, observa.
De acordo com estimativas da Emater, a área cultivada com trigo no Estado neste ano totaliza 1,505 milhão de hectares e a produção esperada é de 4,549 milhões de toneladas, a segunda maior safra da história.


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