Cultivares de cevada devem chegar ao mercado em 2016

Cultivares de cevada devem chegar ao mercado em 2016

Investimento na área deve chegar a 70 mil hectares no próximo ano

Danton Júnior

Casal enfrenta a frustração de safra devido à falta de frio e luminosidade

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Dez novas cultivares de cevada devem chegar ao mercado nos próximos dois anos por intermédio da Ambev, que detém 70% do mercado nacional de cerveja e fomenta o plantio do cereal, que ocupa cada vez mais espaço nas lavouras gaúchas. As novas variedades deverão atender ao mercado da Argentina, do Uruguai e Rio Grande do Sul, estado onde a área plantada cresceu 25% em 2014, chegando a 55 mil hectares.

Segundo o diretor agroindustrial da Ambev, Marcelo Otto, as novas cultivares estão em fase de testes e devem chegar na ponta em dois anos. “Sempre temos de ter mais de uma variedade para que mantenhamos o blendvarietal equilibrado”, explica. “Nossa cerveja tem de ser a mesma sempre, seja aqui no Rio Grande do Sul, no Nordeste ou no Norte, e para isso temos de chegar a um malte dentro da especificação, que é a mesma para todas as nossas maltarias.” A expectativa é de que, assim que forem disponibilizados, os materiais atendam inicialmente a um número pequeno de agricultores, avançando no segundo ano. Otto ressalta que, além de substituir as variedades antigas, que ficam mais suscetíveis a doenças, as novas variedades visam aumentar a produtividade.

A Ambev fomenta o cultivo financiando sementes e fertilizantes, numa relação de integração. E espera aumentar para 70 mil hectares a área do cereal no Estado em 2015 isso apesar de as chuvas do inverno terem frustrado as previsões para a atual safra. Para o gerente e agrônomo da companhia, Dércio Oppelt, o problema ocorrido com o cereal é semelhante ao que o produtor enfrenta em outras culturas, como trigo, aveia e canola. “Ele sabe que é uma condição de clima”, afirma.

Tornar a cultura atrativa ao produtor faz parte dos planos de processar 100% de cevada nacional nas suas duas maltarias localizadas no Rio Grande do Sul uma em Passo Fundo e outra em Porto Alegre. Hoje, 20% da matéria-prima é importada da Argentina. A Ambev acredita ser possível chegar à totalidade de matéria-prima local em cinco a sete anos. Para isso, conta com um perfil bem definido de fornecedor. “Não pegamos qualquer tipo de produtor, como fazem outras culturas”, explica Oppelt. Um dos requisitos é escolher bem a área, já que a cultura demanda características específicas. “Tem de ter um perfil de solo um pouco mais profundo e uma fertilidade boa”, explica o agrônomo. O próprio produtor tem de ter um perfil voltado ao uso de tecnologia. “Queremos uma cevada que sirva para a indústria malteira, mas que ele também tenha retorno econômico”, observa. “Se plantar de qualquer forma, ele não vai ter qualidade e não vai conseguir vender este produto à companhia.”

Acostumado à lavoura de cevada desde pequeno, Cristiano Pierdoná, de Passo Fundo, tem o perfil que a indústria busca para produzir em escala. Após alguns anos sem plantar o cereal “por falta de fomento e política muito ruim, ele retomou com força há quatro anos. Em 2014, a área plantada quase quadruplicou, passando de 220 para 800 hectares. “Acabamos nem plantando trigo”, afirma.

A confiança está baseada em grande parte na política estabelecida pela empresa. Para vender, os produtores podem optar entre o valor fixado em R$ 560 por tonelada e a cotação na Bolsa de Chicago. Soma-se a isso a intenção da indústria de aumentar o recebimento de matéria-prima local. No entanto, Pierdoná acredita que os preços poderiam ser melhores do que os atuais. “Como em todas as culturas, para investir na tecnologia necessária, precisamos sempre um preço melhor para acompanhar inflação e custo de produção”, afirma o produtor, que calcula os gastos em 40 sacas por hectare, semelhante a outras culturas de inverno.

Ensaios buscam maior eficiência

O casal Ari e Mirdes Fleck, do município de Victor Gräeff, não teve sorte com a última safra. Após colher 60 sacas por hectare no ano passado, neste ciclo os agricultores não devem conseguir ultrapassar cerca de 20 sacas, enquanto a produtividade média estadual é de 51 sacas. O motivo foi o mau tempo, que provocou falta de luminosidade e de frio, requisitos essenciais para as culturas de inverno. “Nunca colhi tão mal como neste ano”, afirma o agricultor, que possui uma área de 15 hectares cultivados com o cereal. Em 2013, o casal obteve um preço de R$ 25 a saca. “Este ano falaram que ia dar mais, mas agora com esse clima...”, lamenta Mirdes.

O clima acentuou a ocorrência da giberela e do brusone, doenças comuns nestas condições. Para contornar os transtornos, a Ambev trabalha para ajustar a melhor época e o número de aplicações de fungicidas. “Temos ensaios em outros locais, não só aqui, como em Piratini, Lagoa Vermelha e Vacaria, em que estamos testando isso”, explica o gerente e agrônomo da empresa, Dércio Oppelt.

O casal fornece para a Maltaria Passo Fundo, com capacidade para produzir 110 mil toneladas/ano, e que entrou em operação em maio após a fase de testes à espera da licença ambiental. O projeto original prevê a duplicação da fábrica, ainda sem data definida. É neste local que a cevada colhida na lavoura é transformada em malte, matéria-prima essencial para a fabricação da cerveja. O processo de secagem que determina o tipo da cerveja: a Pilsen requer uma temperatura máxima de 85 graus. Já para a cerveja Bock, são necessários 110 graus.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895