Custo de produção do leite mostra deflação de 4,75% em junho

Custo de produção do leite mostra deflação de 4,75% em junho

Recuperação de preços de soja e milho, usados em rações animais, poderá reverter tendência de queda no ILC, aponta economista

Patrícia Feiten

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Pelo quinto mês consecutivo, o Índice de Insumos para Produção de Leite Cru (ILC) apresentou resultado negativo. Divulgado pela assessoria econômica da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), o indicador teve queda de 4,75% em junho, acumulando deflação de 31,67% neste ano e de 35,35% em 12 meses. Para os próximos meses, no entanto, a previsão é de reversão na tendência de declínio, em razão do movimento de reação já observado nas cotações da soja e do milho, que são usados na formulação das rações animais e têm peso de mais de 50% no cálculo do ILC, segundo o economista da Farsul Ruy Silveira.

O ILC de junho está alinhado ao comportamento de outros indicadores baseados em commodities, como o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-DI) e o Índice Geral de Preços (IGP-DI), ambos calculados pela Fundação Getúlio Vargas, explica Silveira. “Foi uma deflação considerável. O indicador nos mostrou, nessa última leitura, que segue a trajetória de queda, mas ela já vem numa velocidade diferente. Houve uma desacelerada nas quedas dos preços dos insumos”, destaca.

A deflação de junho refletiu quedas na maior parte dos insumos, como os fertilizantes, que recuaram influenciados principalmente pela desvalorização do dólar frente ao real. “É um dado que vem nos surpreendendo. O fertilizante é um componente que puxa bastante (o ILC) e vem caindo com uma consistência bem grande. Vamos ver se vai continuar seguindo essa trajetória”, diz Silveira. O aumento da energia elétrica, pelo segundo mês consecutivo, e a estabilidade dos combustíveis contribuíram para a desaceleração da deflação do índice no período, segundo a assessoria econômica da Farsul.

No caso da soja e do milho, as cotações dos produtos estão se acomodando e apontam para a possibilidade de inflação a partir de julho. “Alguns itens já começam a demonstrar um comportamento de alta, por exemplo, a gasolina e a energia. Mas só pelos grãos já é um indicativo de que a tendência pode mudar ou de que, se houver deflação, vai ser muito menor do que a gente viu nos meses anteriores”, avalia Silveira.

Apesar da trégua nos custos de produção refletida pelo ILC, Silveira observa que, na prática, isso não significou uma recomposição de margens de lucro para os produtores rurais. “A gente não está observando isso se traduzir no ganho que os produtores esperariam numa situação dessas, porque está havendo muita entrada de leite importado”, diz o economista. No primeiro semestre deste ano, o Brasil importou 116 mil toneladas de leite creme de leite e lácteos (exceto manteiga e queijo), volume 240% superior ao registrado no mesmo período de 2022, de acordo com dados da plataforma ComexStat, do governo federal. A maior parte dos produtos é procedente da Argentina e do Uruguai.


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