Decisão da Argentina pode beneficiar carne do Brasil
Suspensão da exportação de produtos bovinos por 30 dias deixa uma lacuna que pecuária brasileira pode ocupar no mercado internacional
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O governo da Argentina anunciou a suspensão temporária, por 30 dias, das exportações de carne bovina. A justificativa apresentada para a medida foi conter o aumento do preço do produto no mercado interno, que chegou a 65% em um ano e impactou na inflação. O país ainda discute outras iniciativas que possam vir a frear a alta na cotação da carne dentro do país.
“Não podemos ver os preços aumentando sem nenhuma justificativa”, disse o presidente Alberto Fernández. O governo considera estranho que o preço permaneça em alta enquanto a demanda interna está baixa. Mas admite que a exportação tem reduzido a disponibilidade do produto para os argentinos. Em abril, já haviam sido estabelecidos requisitos mais rigorosos para a exportação do produto.
A nova medida provocou forte reação dos produtores rurais daquele país. Em comunicado, a Comissão de Enlace das Entidades Agropecuárias, que reúne as principais associações do setor, anunciou “a interrupção da comercialização de todas as categorias de gado a partir da zero hora de quinta-feira, 20 de maio, até as 24 horas, de sexta-feira, 28 de maio”.
Reflexos
A decisão argentina pode produzir reflexos positivos na pecuária brasileira. O consultor Roberto Grecellé, da Prado Estratégia para Agronegócios, afirma que a medida é significativa e impactante no mercado brasileiro de exportações. A Argentina é o quarto maior exportador e responde por 8% do mercado mundial da carne. O entendimento é de que, no momento em que esse percentual sai do cenário internacional, a demanda precisa ser suprida de outra forma. “Quem tem um perfil de carne muito semelhante à Argentina? O Brasil, sobretudo os estados que trabalham com exportação, de São Paulo para baixo, pelo perfil de gado e de carcaça”, analisa Grecellé.
Uma das consequências pode ser o aumento dos preços da carne no mercado interno brasileiro, caso o país venha a preencher a lacuna deixada pela Argentina. “Como a oferta se mantém a mesma, é natural pensar que, perdurando essa decisão do governo argentino, aumente o preço do boi e consequentemente da carne no Brasil”, afirma.