Demanda aquece mercado do trigo

Demanda aquece mercado do trigo

Moinhos, agroindústria da proteína animal e mercado internacional estão comprando o grão

Patrícia Feiten

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A colheita do trigo sofreu algumas interrupções por causa das chuvas e ainda não passou de 5% da área plantada no Rio Grande do Sul, de acordo com a Emater/RS-Ascar, mas a valorização do produto já se reflete em negócios mesmo antes de a maior parte da nova safra entrar em oferta. Entre os motivos para o aquecimento do mercado estão a forte demanda do segmento de carnes, que vem apostando no uso do trigo como ração animal em substituição ao milho, e o aumento das exportações.

O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro), Paulo Pires, estima que mais de 10% da safra prevista já tenha sido contratada para abastecer o setor moageiro, importadores e indústria de proteína animal. A entidade calcula que o Estado colherá 3,5 milhões de toneladas neste ciclo, com base em uma produtividade média de 3.300 quilos por hectare. Pires entende que ter três tipos de compradores de trigo é uma boa notícia, independentemente do que vai acontecer com o preço. “O produtor colhe e vende, ele não especula”, afirma.

Segundo o dirigente, com a quebra da safra de importantes fornecedores de trigo, como Estados Unidos, Austrália e Rússia, nos últimos dois meses os produtores gaúchos vêm aproveitando as oportunidades internacionais. “Muita gente fez (operações no) mercado futuro e o momento voltou a ser favorável para as exportações. Já temos muitos contratos fechados a R$ 80 reais a saca (de 60 quilos)”, revela.

A Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) projeta uma colheita de 3,8 milhões de toneladas. O coordenador da Comissão do Trigo e Culturas de Inverno da entidade, Hamilton Jardim, diz que o mercado interno está aquecido com a ajuda do câmbio. “Trazer trigo de fora com o dólar alto é complicado, então é muito mais fácil para os moinhos comprarem do produtor (local)”, observa. “Aqui na ponta, o preço pago ao produtor está hoje em torno de R$ 80”, complementa.

Segundo Jardim, o produtor de trigo vê a indústria de aves e suínos como um comprador ascendente. “Temos um mercado buscando matéria-prima e, consequentemente, isso garante os preços”, diz. O momento favorável às exportações trouxe uma alternativa para os produtores, acrescenta o dirigente. “Acredito que já tenhamos mais de 600 mil toneladas para colocar no porto para futuros embarques”, diz.


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