Desafios da irrigação pautam encontro de engenheiros da Sergs

Desafios da irrigação pautam encontro de engenheiros da Sergs

Encontro reuniu representantes da Farsul para analisar como o agro pode enfrentar a crise hídrica e as perdas econômicas provocadas pelas estiagens no Rio Grande do Sul.

Agricultura brasileira deverá produzir 600 milhões de toneladas de alimentos em 2035 e tornar país a maior potência agroambiental, com bases tecnológicas e investimento

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Os desafios da irrigação no Rio Grande do Sul foi o tema em debate no Bom Dia Engenharia, evento promovido pela Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs) na manhã desta quarta-feira, em Porto Alegre. O coordenador da Comissão de Meio Ambiente e diretor vice-presidente da Federação da Agricultura no RS (Farsul), Domingos Velho Lopes, e o economista-chefe da entidade, Antônio da Luz, foram os painelistas convidados e tiveram como missão analisar como o agro pode enfrentar a crise hídrica e as perdas econômicas provocadas pelas estiagens no Rio Grande do Sul.

Ex-secretário da Agricultura do Estado, Lopes apresentou uma radiografia da agropecuária gaúcha, formada com 35 cadeias produtivas e responsável por 40% do PIB estadual. Para Lopes, o setor é reconhecido mundialmente por sua diversidade e sustentabilidade e tem como desafio aumentar a produção de alimentos sem afetar o ambiente para gerações futuras. “Nós somos uma fonte segura, produtiva e sustentável para alimentar a população mundial, desde que tenhamos estratégias eficientes, entre elas precisamos resolver de fato a questão estruturante da irrigação”, disse.

Lopes disse que o uso da tecnologia permitiu o aumento da produtividade em mais de 400% nos últimos 40 anos, ao passo que a área de cultivo cresceu somente 80%. Lembrou que, nos últimos três anos, o Estado passou por três eventos severos de estiagem e afirmou que os estragos provocados pelas estiagens não são causados apenas pela ausência de chuva, mas pela ineficiência do Estado em não deixar a chuva escorrer por vários cursos até o oceano. “Não falta água no Estado do Rio Grande do Sul. A precipitação está muito mal distribuída, mas temos de ser eficientes na reservação”, destacou. “Estamos sendo incompetentes na questão de deixar ela salgar.”

O economista Antônio da Luz fez uma análise da demografia mundial, mostrando que o êxodo rural dos últimos 50 anos ocorreu porque a agricultura assim permitiu, tendo oferta maior de alimentos para as pessoas viverem nas cidades. “Até 2030, quatro entre cinco pessoas viverão em países importadores líquidos de alimentos, e isso vai gerar uma fragilidade muito grande”, afirmou. Da Luz destacou que o Brasil é o principal exportador líquido de alimentos, com 169,3 milhões de toneladas, e que a fragilidade global é uma oportunidade para o Brasil ampliar seu espaço. “O mundo como conhecemos hoje não funciona sem o agronegócio brasileiro. Temos este soft power (poder de influência) e ainda não sabemos como lidar com isso”, destacou.

O economista também mostrou dados da evolução da agricultura brasileira, que tem dobrado seus volumes de produção em períodos cada vez menores de tempo. “Deveremos em 2035 vamos produzir 600 milhões de toneladas e nos tornar a maior agricultura do planeta e ser a maior potência agroambiental do planeta, porque estamos crescendo em bases tecnológicas e investimento”, afirmou. Da Luz fez ainda uma defesa do trabalho do agro brasileiro na conservação dos recursos naturais, diferentemente de países ricos europeus que disfarçam seus interesses comerciais em suposta defesa ambiental. “Nós preservamos no Brasil, em um trabalho que o produtor faz voluntariamente, sem receber nada, o equivalente a 10 países inteiros da Europa”, salientou.


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