Estiagem causa perdas em lavouras de milho

Estiagem causa perdas em lavouras de milho

Falta de chuva afeta principalmente a metade oeste do Estado e já fez 23 municípios gaúchos decretarem situação de emergência

Patrícia Feiten

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Produtores rurais gaúchos começam o ano de 2023 sob a pressão da estiagem, que afeta principalmente a metade oeste do Rio Grande do Sul e já acarreta prejuízos à cultura do milho. Segundo o diretor técnico da Emater/RS-Ascar, Alencar Rugeri, nas áreas mais impactadas, a escassez hídrica coincidiu com as delicadas fases de florescimento e enchimento de grãos do cereal, o que comprometeu a produtividade. Ele observa, no entanto, que as perdas no Estado ainda são localizadas e os agricultores devem aguardar o retorno da chuva a “condições de normalidade” para decidir sobre estratégias a serem adotadas na lavoura.

Nas últimas semanas, houve um aumento da demanda pelo Proagro e foram realizadas muitas perícias em propriedades rurais para a colheita antecipada, de acordo com a Emater/RS-Ascar. “Há produtores com perdas que vão eliminar a lavoura e bastante gente fazendo silagem, o que não estava previsto, para tentar dar um destino (à produção). Neste ano, (a perícia) vai liberar muitas áreas porque a estiagem ocorreu cedo e com bastante intensidade em alguns locais”, avalia Rugeri.

A área de cultivo de milho no Estado no ciclo 2022/2023 é estimada em 831,7 mil hectares.Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Ijuí, onde 65% das plantações de milho estão na etapa de enchimento de grãos, as perdas são estimadas entre 30% e 100%, de acordo o levantamento divulgado pela empresa de assistência técnica na quinta-feira passada (29). Na regional de Santa Rosa, os ventos constantes durante a noite e as temperaturas elevadas provocaram grande evapotranspiração, e lavouras da região das Missões contabilizam prejuízos de 25% a 70% na safra.  

Municípios da região administrativa de Bagé, na Fronteira Oeste, também sofrem com a falta de água. Em São Borja, que tem a maior área de milho da região, com 9 mil hectares cultivados em sequeiro e 6 mil irrigados, a colheita começou com rendimentos variáveis, dependendo do grau de tecnologia utilizado nas lavouras. Em Maçambará e Manoel Viana, o relatório da Emater aponta perda de mais de 70% da produção.

O coordenador da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul (Fetraf-RS), Douglas Cenci, diz que a situação do setor é “cada vez mais preocupante”. Nesta semana, a entidade deve solicitar uma reunião com o titular da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), Ronaldo Santini, em busca de medidas de socorro aos pequenos produtores. “(O objetivo é) reconstruir as políticas públicas que foram desmontadas e criar outras que permitam que os agricultores possam aumentar a produção de alimentos, ao mesmo tempo em que temos de lidar com as perdas por conta da falta de chuva”, destaca.  

Até o final de semana, eram 23 os municípios gaúchos que haviam decretado situação de emergência em razão da estiagem, de acordo com dados da Defesa Civil. As prefeituras de Joia e Paraíso do Sul foram as últimas a recorrer à medida, na sexta-feira (30). Do total de cidades, sete já tiveram seus decretos homologados pelo governo do Estado. Entre estas, Tupanciretã, primeira a protocolar o pedido no Sistema Integrado de Informações de Desastres (S2ID) da Defesa, já teve a situação reconhecida pela União.

O decreto de emergência é usado quando o município enfrenta algum tipo de desastre que comprometeu parcialmente sua capacidade de resposta. A aprovação do documento nas esferas estadual e federal é necessária para que as prefeituras recebam benefícios de ajuda humanitária. Também é requisito para que agricultores e pecuaristas das regiões atingidas possam refinanciar dívidas relativas a financiamentos agrícolas. 


Correio do Povo
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