Estiagem deste ano está pior que a do ano passado, avalia meteorologista da UFSM

Estiagem deste ano está pior que a do ano passado, avalia meteorologista da UFSM

Ao mesmo tempo, há previsão de alívio para este mês, em especial no norte do Estado

Camila Pessôa

Grupo da UFSM divulga previsões desde setembro de 2022

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A estiagem de 2022 e 2023 está pior que a de 2021 e 2022, por estar se prolongando mais, desde julho do ano passado, segundo avaliação do meteorologista do Grupo de Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Murilo Machado Lopes.

“De 2021 para 2022 a gente teve até mesmo outubro de 2021 com chuvas acima do normal ainda, então tínhamos uma estiagem que não era tão prolongada, como está acontecendo de 2022 para 2023”, considera ele. Ao mesmo tempo, o meteorologista afirma que a tendência é de que a partir da segunda metade de fevereiro o Estado tenha episódios de chuva que vão trazer alívio para algumas regiões, especialmente no Norte do Estado. 

Mas, segundo Lopes, isso ainda não vai representar uma reversão total do déficit de chuvas,. “A gente está tendo uma estiagem prolongada demais, que não vai se reverter em um mês apenas, mas pontualmente alguns locais devem ter melhoria em fevereiro agora, com alguns episódios de chuva mais expressivos”, prevê. Já em março, a expectativa é de que a estiagem volte a ganhar força.

Essas previsões são feitas pelo Grupo de Meteorologia da UFSM e publicadas mensalmente desde setembro de 2022. O grupo tem discussões sobre as condições do Estado e do continente, além de analisar as projeções de diferentes centros meteorológicos para chegar a um consenso sobre a previsão para os três meses seguintes. Além de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e do Simagro-RS, o grupo utiliza outras previsões e pluviômetros para basear as discussões, sempre na primeira sexta-feira de cada mês. 

O  diferencial do grupo é que ele adapta as precisões para as diferentes regiões do Rio Grande do Sul a partir da expertise dos meteorologistas participantes, que estudam os modelos disponíveis e dão mais peso para aqueles que consideram mais pertinentes para cada estação do ano no Estado. “É uma correção subjetiva? Sim. Mas ela já conta com a bagagem dos nossos meteorologistas”, considera Lopes. 

Os centros meteorológicos que baseiam as previsões do grupo utilizam modelos com cálculos matemáticos. “Eles têm diferentes dados de entrada e calibrações, muitas vezes alguns modelos tem previsibilidade maior, e quando fazemos a discussões levamos em conta o desempenho deles nos meses anteriores, vamos desenvolvendo esse conhecimento de maneira conjunta”, explica. O grupo também utiliza índices oceânicos, de comportamento do La Niña, por exemplo, para fazer análises. 

O projeto ainda é recente, “mas já conseguimos verificar se acertamos ou não para o trimestre de outubro, novembro e dezembro, por exemplo”, menciona Lopes. De acordo com ele, o grupo tem se saído bem. “Indicávamos que o período de final de primavera e começo de verão seria bastante seco principalmente no Oeste do Estado, e isso acabou se confirmado”, cita. “Ainda estamos fazendo as verificações para este último trimestre, mas também acertamos na manutenção da estiagem no setor oeste do estado e agora em janeiro tivemos pouquíssima chuva na área de Uruguaiana, São Borja e Quaraí também, então mais uma vez a gente estava acertando a localização”, completa. Porém o projeto ainda não tem uma taxa de acerto calculada.

Para ajudar a basear decisões a respeito da estiagem no Estado, além de ter contato frequente com a prefeitura de Santa Maria, o grupo participa das reuniões do Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado (Copaergs), que inclui órgãos como a Emater-RS/Ascar, Defesa Civil, Instituto Riograndense do Arroz (Irga) e define o planejamento do Estado para o estação seguinte, como explica Lopes.  

Mais reforços para as previsões do Estado

Outra ação recente que vai reforçar o monitoramento climático neste período de estiagem é a ampliação da rede de estações meteorológicas do Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro-RS), que desde o início de fevereiro conta com 50 estações. Essas instalação e renovações das estações meteorológicas foram concluídas com sucesso, mesmo com dificuldades e contratempos, como relata o coordenador do Simagro-RS, Flávio Varone. Agora, a equipe está fazendo análises preliminares para instalar mais 48 estações, já adquiridas. Ele afirma que, com outras estações além dessas, conseguidas pelo grupo, o Estado pode chegar até a mais de 100 estações este ano. “O ideal é cobrir o máximo possível, porque a chuva, o relevo e o clima são irregulares e o vento tem particularidades em cada região”, destaca Varone. Segundo ele, uma cobertura maior também é necessária para monitorar as derivas de agrotóxicos com mais precisão. “Então a ideia é fazer um adensamento maior e buscar parceiros, como organizações, cooperativas e produtores”, afirma. 

Lopes relata que essa ampliação do número de estações meteorológicas do Estado vai auxiliar o trabalho do grupo da UFSM. “Quanto mais estações temos disponíveis, mais informações vamos ter porque no Estado há bastante variações de relevo e bioma, por exemplo no verão há acumulados bem localizados e, quando temos estações em área maior, conseguimos captar esses fenômenos de forma apurada”, explica Lopes. 

Uma parceria com a equipe da UFSM é uma possibilidade, segundo Varone. “Falta gente para trabalhar conosco e a universidade tem quem trabalha com isso”, diz. Ele também afirma que a Secretaria da Agricultura está aguardando recursos para melhorar o Simagro-RS, com um aplicativo e melhores recursos de interatividade. Segundo ele, ainda, vai demorar alguns anos para que as estações mostrem sua contribuição máxima, porque é preciso coletar dados ao longo do tempo para fazer estudos, mas já há informações de monitoramento climático que podem ser usadas.


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