Estoques baixos mantêm preços do arroz firmes

Estoques baixos mantêm preços do arroz firmes

Cotações internas acompanham cenário internacional, mas alta pode ser freada por dificuldade de repasses de indústria e varejo, avalia consultor

Patrícia Feiten

Previsão da Conab para safra brasileira 2023/2024, divulgada em 10 de janeiro, é de um volume de 10,8 milhões de toneladas de arroz

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Após sinalizarem um recuo no início deste mês, os preços do arroz voltaram a subir e tendem a continuar firmes pelo menos até o avanço da colheita no país, acredita o analista Evandro Oliveira, da consultoria Safras & Mercado. Segundo o especialista, os estoques apertados do cereal são o fator que mais contribui para essa valorização, e a nova temporada comercial da commodity deve ter início em março frente a um volume em torno de 700 mil toneladas, o suficiente para garantir apenas um mês de operação das indústrias beneficiadoras.

Na quarta-feira (17), o indicador do arroz em casca CEPEA/IRGA-RS, divulgado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), fechou a R$ 128,88 a saca de 50 quilos, o que reflete um aumento de 0,75% ante o dia anterior e de 1,64% no mês. No dia 9 de janeiro, a cotação do produto havia atingido R$ 131,11 por saca, um recorde nominal na série do levantamento. “Algumas empresas, gradualmente retornando dos recessos (de fim de ano), tiveram uma postura mais compradora, isso mexeu com o mercado”, explica Oliveira.

O mercado também opera com viés de alta, influenciado pela estimativa de queda de até 5 milhões de toneladas na produção da China anunciada no último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). O país asiático é um dos maiores importadores mundiais do cereal. “Com isso, a produção global já recuou de aproximadamente 518 milhões de toneladas de arroz beneficiado para 513 milhões de toneladas. O mundo continua dando sinais de que precisa de mais arroz”, destaca o consultor.

O avanço das cotações, porém, poderá ser freado pelo comportamento do consumo. “Os preços estão atingindo o pico. Os compradores (indústrias e varejo) têm muita dificuldade de repasse desses ajustes da matéria-prima para o consumidor, já sabendo que as vendas estão caindo desde meados de outubro”, pondera Oliveira. Outro elemento que pesará na formação de preços, segundo o consultor, é a necessidade de venda dos estoques para o pagamento de despesas de custeio da lavoura no próximo mês. “O pessoal já aproveitou o bom momento. A tendência é de que os vendedores estejam mais presentes no mercado. Já começamos a ver uma estabilidade, então este momento é muita cautela tanto de vendedores quanto de compradores”, afirma Oliveira.

Embora ainda considere prematura uma avaliação do impacto do excesso de chuvas na produtividade esperada para a cultura no ciclo 2023/2024, Oliveira diz que o mercado trabalha com expectativa de queda. “O El Niño castigou as lavouras gaúchas, ainda não se sabe o tamanho dos estragos. Projeções apontam para uma safra nacional de 10,7 milhões de toneladas, mas começamos a acreditar que é um número muito otimista. A safra gaúcha, com sorte, pode chegar até 7,3 milhões de toneladas”, estima.

Para Oliveira, 2024 deverá ser um ano histórico para o mercado de arroz, trazendo perspectivas de reinvestimento nas lavouras por parte dos produtores. “No Litoral Norte gaúcho, o arroz de boa qualidade ainda é comercializado a R$ 142 por saca. O arroz segue mais caro que a soja”, observa. Nesse cenário, o analista projeta que os orizicultores iniciem a colheita do cereal com pelo menos 10% de margem positiva. “O custo total de produção do arroz está em torno de R$ 98 por saca, e o produtor tem grandes chances de começar a colher entre R$ 105 a R$ 110. Vai ser um ano muito importante, em que o produtor surge como formador de preço, e não tomador de preço”, avalia Oliveira.


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