César Mânica: "Vai ser a melhor exposição que já tivemos"

César Mânica: "Vai ser a melhor exposição que já tivemos"

Presidente da Cotrijal projeta a 20ª edição da Expodireto

Correio do Povo

Mânica destaca importância da feira no aumento da produtividade

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Presidente da Cotrijal há 23 anos — e reeleito recentemente para mais um mandato de três anos —, Nei César Mânica estava à frente da cooperativa durante a realização da 1ª Expodireto, no ano 2000. Desde então, a exposição deixou de ser um evento de âmbito regional para se tornar uma das maiores feiras agropecuárias do país. Em entrevista ao Correio do Povo, Mânica falou sobre a trajetória da feira, expectativa para a 20ª edição e os planos para o futuro

No momento em que a Expodireto completa 20 edições, quais as suas principais lembranças das primeiras feiras?

Lembro que quando iniciamos era uma feira regional, tínhamos 40 e poucos hectares. E tivemos um desafio de fazer a primeira para dar um “choque de credibilidade”. Aí nós fizemos, com muito esforço, em três meses, gramamos, canalizamos, fizemos irrigação, enfim, montamos uma estrutura e aquilo foi uma arrancada. Tivemos crescimento graças ao impacto que teve a primeira edição. Depois veio a sequência com a criação do parque, a transformação em uma feira do Mercosul e aí ela não parou de crescer, se tornou nacional e hoje é uma feira internacional. Foram marcos importantes. A ideia era fazer não um dia de campo, mas sim uma feira diferenciada, com foco bem claro em inovação, tecnologia. Se nós começássemos com uma feira modesta iríamos levar dez anos para nos firmar. 

Dava para imaginar que 20 anos depois a feira chegaria ao patamar atual, com presença de 70 países e grande volume de negócios?

Ninguém imaginaria que chegaria num tamanho dessa magnitude. A prova disso é que neste ano vamos ter talvez a maior representatividade política da história da feira, até pela importância do agro. Então ela se tornou uma referência nacional e internacional. Não tínhamos nem noção de onde poderia chegar e foi uma alegria muito grande. 

O perfil da Expodireto mudou ao longo destes 20 anos?

O perfil da feira permaneceu o mesmo. O que os expositores querem de uma feira? Eles querem o negócio. Temos um plano diretor, algumas regras bem claras das políticas da participação na Expodireto, com bastante disciplina, rigidez. Isso deu credibilidade e os expositores querem esse modelo. Não tem festa, não tem bebida alcoólica, não tem shows. Esse modelo se firmou e foi muito positivo. 

Destes 20 anos, qual foi o momento mais marcante para o senhor?

Foram tantos, mas o mais marcante foi no ano de 2005, quando deu aquela grande frustração (provocada pela estiagem) e o pessoal estava sugerindo que não se fizesse a Expodireto em virtude da quebra de safra. Eu recordo que falei com vocês da imprensa e algumas empresas e disse: “Vamos fazer uma Expodireto da esperança, para levantar a autoestima do produtor”. Aí fizemos e foi uma feira muito boa. O produtor saiu dali muito feliz, só que a realidade no campo era outra. Se não tivéssemos feito, poderia até ter se perdido o interesse. Foi uma revitalização da feira, um marco importante. Se começar a fazer de dois em dois anos, vai perdendo um pouco a motivação. Se tu perdes o interesse, esfria. Há muitos eventos em que ocorreu isso. Recebemos alguns depoimentos de empresas, principalmente no setor metal-mecânico, de que a feira representa dois meses de faturamento. Isso é muito positivo.

Nestes últimos 20 anos, as lavouras gaúchas experimentaram um acréscimo na produtividade e na adoção de tecnologia. Qual foi o papel da Expodireto neste processo? 

A cada dois anos da realização da Expodireto Cotrijal, a média de produtividade aumenta de cinco a dez sacas. Há alguns anos atrás estávamos em 40 e hoje estamos com 70 sacas por hectare na cultura da soja na região. E a Expodireto tem um papel importante nisso porque aqui as empresas mostram os seus materiais, todos os seus produtos, e a aí o produtor assimila mais facilmente a mudança no campo. Se você pegar a média de produtividade da nossa região, ela é muito superior à média do Brasil e do Estado. A Expodireto tem uma parcela muito importante nisso.

Fala-se muito no Agro 4.0, que inclusive será tema de fóruns durante a Expodireto. Em termos de inovação, qual o próximo passo da agricultura brasileira?

As inovações e tecnologias estão avançando muito rapidamente, então vai haver a conectividade do homem do campo com as máquinas. Esse processo vai pegar num primeiro momento principalmente a média e grande propriedade, mas que vem uma revolução muito grande, não há dúvida. Queremos no ano que vem trabalhar muito forte em cima destas inovações.

Para esta feira, qual a sua expectativa, inclusive de negócios?

Tenho certeza que vai ser a melhor exposição que nós já tivemos. Primeiro pelo otimismo que tem no Brasil, de confiança, crescimento do PIB, inflação se mantendo baixa, taxas de juros se mantendo. Em segundo lugar, aqui na região o milho foi bem e a soja está num estágio muito bom. Sabemos que tem alguns locais com problemas, mas também é um fator positivo. Vai ter recurso para a Expodireto ainda dentro do Plano Safra, talvez falte para outras exposições, mas em Não-Me-Toque vai ter. Isso também vai ajudar em muito os negócios. Há dois anos o produtor vinha meio retraído em investimento, mas agora parece que ele está mais animado a fazer bons negócios.

No ano passado, havia a expectativa de que as taxas de juros do Moderfrota caíssem, o que não ocorreu. Neste ano ocorre o contrário: há a expectativa de que as taxas aumentem a partir do próximo Plano Safra. Isso faz com que o momento atual seja favorável às vendas?

Com certeza, até porque nos bastidores do governo fala-se em taxas variáveis para financiamento a longo prazo. Já falamos com o governo federal e com as autoridades que isso é inviável. Na Expodireto ainda tem juros fixos, então é uma oportunidade. 

Como o senhor vê essa discussão sobre o futuro do Plano Safra e do crédito rural?

Acho que uma parcela dele vai ter juros livres. Mas não se pode fazer uma mudança radical num momento só. Vai ter que ter uma transição para que o produtor possa se organizar neste sentido também. 

A Cotrijal registrou nos últimos anos um crescimento de faturamento na ordem de 30%. O que explica este sucesso? 

Nos últimos dois anos na região Norte do Estado o produtor está aderindo maciçamente à Cotrijal. Estamos investindo também na área de lojas e mercados. Fizemos uma pesquisa com uma fundação e o item mais importante que aparece é a confiança que as pessoas têm na Cotrijal, a força da marca Cotrijal e a seriedade com que se faz a gestão. Estes fatores fazem com que cada vez mais produtores se integrem à família Cotrijal, trazendo estes resultados fantásticos.

E as metas para os próximos anos?

A meta é investir bastante em aumento da capacidade de armazenagem e buscar estes espaços que tem de comercialização, de varejo, lojas, atacado, o que beneficia toda a comunidade, não só os produtores rurais. Dentro da própria área de ação da Cotrijal tem um espaço muito grande para crescer. 

O senhor acabou de ser reeleito para mais um mandato de três anos. Pretende permanecer por mais quanto tempo como presidente?

Estou há 23 anos como presidente, agora vou para 26. Tenho dito o seguinte: estamos preparando gente nova para ir assumindo gradativamente a cooperativa. Mas enquanto eu tiver energia e vontade de colaborar, mais algum período eu posso permanecer. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895