Cooperativismo busca saídas para endividamento de produtores

Cooperativismo busca saídas para endividamento de produtores

Sistema Ocergs apresentou pedidos ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro

Itamar Pelizzaro

Encontro ocorreu na Casa do Cooperativismo na Expodireto Cotrijal

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O cooperativismo gaúcho se reuniu com o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, nesta segunda-feira na Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque, para apresentar problemas que envolvem as cooperativas. A portas fechadas, o presidente do Sistema Ocergs, Darci Hartmann, mostrou a Fávaro que, apesar da expectativa de boa colheita nesta safra, o setor enfrenta problemas de endividamento e busca alongar os compromissos financeiros com taxas de juros compatíveis com a realidade dos produtores rurais.

“Estamos vindo de duas safras ruins, com custo financeiro altíssimo, e muito das dívidas dessa safra foi rolada com juros de 15% a 20%”, disse Hartmann. O cooperativista lembrou que a cultura do trigo sofreu com os efeitos do El Niño. “Tivemos a maior frustração de todos os tempos no trigo e não colhemos nada. Agora, este ano, estamos fazendo safra de milho, que não teve produtividade boa, por fatores climáticos e pragas”, narrou. Conforme Hartmann, as lavouras de soja terão boa produtividade, apesar de bolsões de seca e problema de ferrugem asiática em algumas regiões.

A preocupação do setor é com os preços pagos ao produtor, com queda média de 35% para a soja. As dúvidas, em maioria, referem-se ao pagamento de dívidas, dado o custo financeiro atual.

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Hartmann explica que alguns produtores querem fazer EGF (financiamento do governo federal para prorrogação do empréstimo). Com isso, agentes financeiros acabam sendo os primeiros a receber, e o produtor vai deixando os compromissos com as cooperativas para depois.

“O grande desafio é que precisamos de linhas de crédito com juros compatíveis para alongar essas dívidas para mais uns dois anos para o produtor. Precisamos de mais duas safras boas e de uma recomposição de preços, principalmente para a soja, para podermos fazer essa nova negociação”, entende Hartmann.

No ano passado, o setor cooperativista conseguiu negociar e alongar dívidas com bancos e diferentes linhas, mas com taxas consideradas. “O juro foi pesado. Nos bancos, ficou basicamente de 15% a 18% para para o produtor. Eventualmente, para algumas cooperativas que não têm capital de giro bastante bom, os juros chegaram de 18% a 20%”, disse.

Outra questão que gera apreensão é o prazo com que as dívidas foram arroladas. “Esse alongamento do ano passado deveria ter sido feito para três anos. Foi jogado tudo para este ano. Se tivéssemos essa safra com preço da soja a R$ 200 a saca, poderíamos resolver”, diz Hartmann. Com o atual patamar de preços, a equação ficou difícil de resolver.

Impactos no Centro-Oeste

O impacto dos preços atinge não apenas produtores gaúchos. “Se aqui, no Rio Grande do Sul, não viabiliza com a soja a R$ 105, R$ 107 a saca, no Mato Grosso está abaixo de R$ 100. Então, como vamos fazer o pagamento da safra e, acima de tudo, compor a safra nova, adquirir insumos e buscar produtos novos?’, questiona Hartmann.

Além de apresentar a pauta ao ministro Fávaro, o cooperativismo agro deve se encontrar com o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, na próxima sexta-feira, em Brasília, para discutir preço mínimo para o trigo.

Casa do Cooperativismo

O ministro Fávaro era esperado para a reinauguração da Casa do Cooperativismo na Expodireto, mas teve outras agendas e visitou o espaço no final da tarde, quando se reuniu com líderes cooperativistas. O espaço da Ocergs foi reformulado para receber visitantes, representantes do setor e autoridades, além de sediar eventos. Conforme a Ocergs, a nova casa vai operar como um hub de conexões entre as cooperativas, conectando inovação e valorização das pessoas. A proposta é oferecer experiências aos associados e mostrar ao público que o cooperativismo é uma forma diferenciada de fazer negócios, com presença em diversos setores da economia.


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