Correio do Povo discute desafios na rotação de culturas
Avanço da área de soja e redução de outros cultivos, como o milho, motivam discussão sobre o tema
publicidade
No mesmo período, a lavoura de milho encolheu praticamente pela metade, chegando a 720 mil hectares na safra atual. O desafio da rotação de culturas frente ao avanço da soja foi o tema de mais um debate do Correio do Povo Rural, promovido na Casa do Correio do Povo na Expodireto Cotrijal.
A diminuição da rotação de culturas impacta não apenas na área de milho, mas também na principal cultura do Estado. "A soja está começando a pagar uma conta muito cara pela saída do milho", avaliou o coordenador técnico de difusão da Cotrijal, Alexandre Doneda. O ideal, conforme o especialista, seria que pelo menos um quarto da propriedade fosse cultivada com o cereal, o que ajudaria a fornecer palhada para a soja e combater a erosão. Doneda destacou ainda a ocorrência de plantas invasoras e doenças em função do manejo inadequado.
Pragas antigas, que não vinham mais sendo alvo de preocupação, tornaram a aparecer na safra atual. O especialista citou aumento na incidência de fungos de solo, mofo branco, capim rabo de burro e capim amargoso, além de uma maior dificuldade no manejo de buva. "A rotação com os herbicidas utilizados no milho auxiliam muito no manejo e aumentam a vida útil dos manejos que utilizamos na soja", resumiu.
A queda da área de milho, no entanto, não é o único fator para o avanço das lavouras de soja. O presidente da Farsul, Gedeão Pereira, destacou a presença da nova fronteira agrícola, que é a Metade Sul, que era tradicionalmente território de pecuária de corte e de arroz irrigado, mas que viu a área da oleaginosa crescer significativamente nos últimos anos. Na avaliação do dirigente, a rotação de culturas é fundamental, porém conta com especificidades entre a Metade Norte e a Metade Sul, onde "os hectares são subtraídos da pecuária de corte".
Embora sejam atividades diferentes, Gedeão destacou que elas se complementam tendo em vista a necessidade do milho para o confinamento de bovinos. "Como temos a pretensão de não diminuir a atividade pecuária, estamos nos socorrendo d0o milho para podermos concentrar o boi nos hectares remanescentes, como alternativa econômica", destacou.
O fato de a soja estar mais valorizada em relação ao milho não impede que o produtor possa ter perdas econômicas ao colocar "todos os ovos numa cesta só", segundo o assistente técnico estadual em culturas da Emater, Alencar Rugeri. "Além do risco econômico, tem o risco técnico de ir perdendo tecnologias e o custo aumentar até o ponto de inviabilizar a cultura", alertou. O agrônomo chamou a atenção para culturas que nos últimos anos receberam pouca atenção, como o sorgo, mas destacou que as fichas devem mesmo ser colocadas no milho.
"É a cultura que está pronta. Temos tecnologias e altas produtividades. O que temos que melhorar são alguns detalhes em termos de adequar custos", reforçou. A mola propulsora que na avaliação de Rugeri poderá fomentar o cultivo do milho no Estado é o fato de haver uma cadeia que demanda o grão para a ração animal.
Para o professor Mauro Rizzardi, do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da UPF, chamou a atenção para a diferença de liquidez e rentabilidade entre as culturas da soja e do milho. "Não é por vontade do produtor, é pela necessidade", disse. Além disso, destacou que o plantio do cereal requer um investimento maior. O plantio normalmente se inicia em setembro, época em que o produtor está descapitalizado.
"As linhas de crédito neste momento são mais reduzidas e voltadas para a soja, e o milho precisa de um desembolso elevado no início", acrescentou. Na avaliação dele, o ideal seria que as alternativas para a rotação não estivessem restritas ao verão. "Se tivéssemos uma política bem clara de incentivo ao trigo, o produtor teria uma rentabilidade boa e no verão poderia até mesmo plantar o milho", observou.