Energia renovável pode absorver soja

Energia renovável pode absorver soja

Oleaginosa ganha destaque na produção de combustíveis sustentáveis como o biodiesel

Correio do Povo

Debatedores destacaram a importância econômica e ambiental do investimento em fontes de energia renovável para o desenvolvimento do campo

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A discussão sobre a busca por fontes renováveis de energia passa obrigatoriamente pelo campo. Além da existência de diversos cultivos que podem ser destinados à produção de combustíveis, o setor demanda qualidade na energia que é consumida nas propriedades rurais. Este foi o tema tratado na quinta-feira em mais uma edição dos Debates Correio do Povo Rural, na Casa do Correio do Povo / Grupo Record RS, na Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque. O debate encerrou mais um ciclo de discussões sobre assuntos de interesse do campo, iniciado na última terça-feira.

Para o agrônomo Fábio Júnior Benin, coordenador do Selo Combustível Social, da BsBios, de Passo Fundo, o grande benefício do biodiesel é a sua contribuição para agregar valor à produção de soja, já que hoje o Brasil exporta basicamente soja em grão, com menor valor. Esse fator, na opinião dele, soma-se para garantir um equilíbrio à balança comercial. “O fato de você estar possibilitando mais um mercado que absorva essa produção, que estabeleça níveis de preços diferenciados, talvez seja o grande benefício”, ressaltou.

O aumento do percentual da mistura do biodiesel no diesel leva Benin a afirmar que se trata de um mercado em franca expansão. Hoje o volume é de 8%, com previsão de que até 2019 chegue a 10%. Entidades do setor trabalham para que o índice seja elevado para 9% ainda este ano. Para o produtor, a grande vantagem, segundo Benin, é a possibilidade de contar com um grande comprador de soja. “O óleo por muitas vezes era visto como o patinho feio da história. Ter na indústria mais uma opção de comercialização traz benefícios ao preço”, acrescenta.

Ao mesmo tempo em que vê os benefícios das energias renováveis, o chefe da divisão técnica do Senar/RS, João Augusto Telles, levanta algumas questões relacionadas à sua viabilidade econômica. Segundo ele, a soja comercializada a R$ 90, como ocorreu no ano passado, não é viável para a venda à produção de biodiesel, por exemplo. “As tecnologias estão aí. O biodiesel é uma maneira de agregar valor, mas tem que agregar valor para o produtor”, afirmou. Telles também destacou a necessidade de demanda para o produto final, em um momento em que cada vez mais a sociedade cobra por meios de produção com menor impacto ambiental. “Ela tem que ajudar a pagar esse investimento, que no futuro é para todos nós”, destacou. Um exemplo, citou, é o caso da utilização do etanol.

Uma das alternativas que passaram a ser discutidas recentemente no Estado é produção de etanol amiláceo, fabricado a partir de grãos e tubérculos. A criação de um programa estadual que contempla essa atividade está prestes a ser executada pelo governo do Estado. Segundo o agrônomo Valdir Zonin, da Emater, a expectativa é de que o plano seja lançado até abril. Uma das opções para o cultivo seria o triticale, que produz até 150 sacas por hectare e pode ser utilizado para se aproveitar a ociosidade das terras nos meses de inverno — que no Rio Grande do Sul chega a 4 milhões de hectares, de um total de 7 milhões de hectares das lavouras de verão. No outono, a opção seria o sorgo. Outras alternativas seriam o arroz gigante e a batata-doce. O milho não seria utilizado na produção de etanol, já que o Estado não conta com produção suficiente. O Estado, no entanto, larga atrás do Mato Grosso, onde deverá ser construída, em Lucas do Rio Verde, a primeira usina de etanol de grãos do país.

Quando se fala em energias renováveis no campo, outra preocupação do produtor rural é com relação ao seu consumo, já que a qualidade do serviços prestado no interior muitas vezes está longe de ser satisfatório. Duas alternativas que têm ganhado espaço são a energia fotovoltaica e a energia eólica, que não envolvem nenhum tipo de combustível a não são poluentes. Embora os benefícios sejam conhecidos, o excesso de burocracia ainda atrapalha o desenvolvimento desses dois modelos de geração. Segundo o agrônomo Udo Schmiedt, associado da Cotrijal, entre os grandes problemas está a dificuldade na aquisição dos equipamentos. Como o país ainda depende de tecnologia importada, o material chega ao Brasil com um custo muito caro. “Financiamento é o grande gargalo. Não é como comprar uma geladeira ou um fogão. É um investimento para produzir energia e incentivar a produção”, compara. Schmiedt afirma ser necessário que bancos públicos flexibilizem o financiamento, para que esta tecnologia possa ser adotada com uma velocidade maior, o que, em consequência, aliviaria toda a rede de distribuição de energia.

Alguns dos primeiros equipamentos de energia fotovoltaica foram instalados ainda em 1994, na região Noroeste, a partir de uma iniciativa da Emater que, à época, veio ao encontro de uma dificuldade das propriedades, a distância com relação à rede de energia elétrica, recordou Zonin. “Hoje a energia fotovoltaica custa três a quatro vezes menos do que a energia que nós pagamos”, calculou. Havendo disponibilidade de recursos, o agrônomo aposta que o sistema vai “deslanchar”, já que as linhas de financiamento para o setor contam com taxas de juros reduzidas.

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