Parque tem um recanto de delícias coloniais

Parque tem um recanto de delícias coloniais

No Pavilhão da Agricultura Familiar da feira, 197 empreendimentos de 122 municípios, muitos deles estreantes, exibem e vendem alimentos produzidos em suas pequenas agroindústrias, além de artesanato, flores e plantas

Patrícia Feiten

Isaura, da Agroindústria Vitória Alimentos, de Pouso Novo, adianta que o empreendimento levará à feira combinações inusitadas, como as geleias de cenoura com laranja e de abacaxi com hortelã

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Os sabores regionais ganham notoriedade na programação da Expodireto. Um dos destaques do evento, o Pavilhão da Agricultura Familiar exibirá, ao longo de cinco dias, produtos elaborados por agroindústrias de todo o Estado, muitas delas nascidas em pequenas cozinhas. Neste ano, o espaço reúne 197 empreendedores de 122 municípios, em 191 estandes (alguns deles com mais de uma exposição), sendo 132 da área de alimentação – há ainda expositores de artesanato, flores e plantas. O cardápio é farto, destacando queijos coloniais, embutidos, vinhos, sucos, pães, biscoitos, cucas, rapaduras, mel e doces nostálgicos no estilo “delícias da vovó”.

O vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Eugênio Zanetti, observa que a retomada da feira é importante para esses negócios familiares, pois a maioria amargou a queda de receitas com as restrições trazidas pela pandemia de Covid-19 a partir de 2020. A entidade é um dos organizadores do Pavilhão, em parceria com a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), a Emater/RS-Ascar, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf -RS) e a Cotrijal.

“A expectativa é que as agroindústrias possam fazer vendas, mas principalmente prospectar negócios futuros”, diz Zanetti. A seleção dos expositores, ressalta o dirigente, priorizou agroindústrias com pouco tempo de atividade, para ajudá-las a consolidar suas marcas no mercado.

Schmidt, de Crissiumal, vai expor variedades de queijo tradicional e temperado com tomate seco e orégano. Foto: Arquivo Pessoal

É o caso da Agroindústria Vitória Alimentos, administrada pelo casal Isaura Berlamindo e Adriano Ferronato, que neste ano participará pela primeira vez da feira. Para conquistar o paladar dos visitantes, a empresa de Pouso Novo levará ao evento em torno de 300 quilos de geleias e doces e 200 quilos de conservas de sabores variados. Segundo Isaura, os carros-chefes de vendas são as combinações inusitadas, como as geleias de cenoura com laranja e abacaxi com hortelã, e versões picantes da tradicional iguaria, como a opção morango com pimenta. Vender o estoque, porém, não é o único objetivo. “O que a gente mais espera é aprender dentro do nosso próprio negócio, a troca de experiência e ideias”, diz a empreendedora.

Isaura conta que o negócio familiar é fruto da persistência. A agroindústria está instalada em uma escola desativada, próximo à propriedade rural do sogro de Isaura, onde o casal investe na fruticultura. O primeiro pomar, de peras, foi plantado em 2014. Na sequência, vieram outras frutas que inicialmente abasteciam agroindústrias locais. “A gente inaugurou em 20 de dezembro (de 2019), com toda aquela empolgação, depois veio a pandemia e nos fechou portas”, lembra Isaura. Hoje, a produção mensal da Vitória é de quase 1 mil quilos de geleias e doces e 2 mil quilos de conserva vegetal. Esse volume é destinado a programas públicos de alimentação escolar e de aquisição de alimentos, além de supermercados e mercados dos municípios da região.

Também estreante na Expodireto, o empreendedor Ivanor Luis Schmidt vê nessa participação a oportunidade de divulgar a marca da Queijaria Celeiro, negócio que adquiriu em março de 2020 com outro sócio e do qual posteriormente se tornou o único proprietário. “Feira é produto para lá, dinheiro para cá; estar num lugar só e vender uma quantidade boa anima”, comenta Schmidt. Estabelecida em Crissiumal, a Celeiro produz queijos, bebidas lácteas e nata. O leite processado é fornecido por quatro pecuaristas parceiros.

Na Expodireto, Schmidt apresentará duas variedades de queijos, o tradicional e o temperado com tomate seco e orégano. Segundo ele, a ideia é levar para o estande entre 300 e 350 peças. Mas, se a demanda for grande e o estoque acabar antes do término da feira, será prontamente reabastecido. “A agroindústria é pequena, o que produzo eu vendo”, explica Schmidt. Hoje, a Celeiro fornece produtos para escolas da rede pública em Crissiumal e também atende clientes nos municípios de Santo Cristo, Santa Rosa, Três de Maio e Horizontina, na mesma região.

À frente da Vinícola Baggio, de Dois Lajeados, o agricultor Fábio Baggio também está em contagem regressiva para o evento em Não-Me-Toque. Quem visitar seu estande encontrará vinhos e sucos de uva, laranja, bergamota, abacaxi e goiaba e, além disso, terá a chance de conferir em primeira mão um lançamento da marca – o suco de maçã. “Acredito que vai ser uma boa feira, está todo mundo louco para sair e ver novidades”, diz Baggio, que espera vender entre 1 mil e 1,5 mil litros de bebidas. No mercado desde 2008, a vinícola processa por ano 60 mil litros de vinho e 100 mil litros de sucos, à base de frutas de produção própria.

Baggio, de Dois Lajeados, ampliou a linha de sucos de frutas, que estarão ao lado de vinhos no estande que ocupará en Não-Me-Toque. Foto: Arquivo Pessoal

Para o empreendedor, este ano traz um novo desafio à agroindústria familiar, que sofreu o impacto da paralisação de feiras no início da pandemia e, agora, é afetada pela estiagem no Rio Grande do Sul. A falta de chuva comprometeu metade da produção de uvas da família, que chegava a 100 mil quilos por ano. A vinícola, diz Baggio, também busca crescer aproveitando a rota turística criada pelo Cristo Protetor de Encantado e pelo Trem dos Vales, que percorre a região do Vale do Taquari. Para isso, prepara a abertura de um ponto de venda direta. “A gente está se adequando para receber essas pessoas”, revela Baggio.

Números dos pavilhões

  • 197 expositores distribuídos em 191 estandes: 132 de agroindústrias, 48 de artesanato e 11 de flores e plantas.
  • Das agroindústrias, 41,7% são de produtos de origem vegetal, 37,4 % de produtos de origem animal e 20,9% de bebidas.
  • Os expositores são de 122 municípios, com maior concentração das regiões de Passo Fundo, Ijuí e Soledade.
  • Na edição de 2020, o faturamento geral foi de R$ 1,169 milhão.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895