Portas abertas à reflexão e aos negócios

Portas abertas à reflexão e aos negócios

Não-Me-Toque, na região noroeste do Estado, sedia, a partir desta segunda-feira, a 23ª Expodireto Cotrijal, reunindo o setor agropecuário em torno do debate sobre mais uma estiagem e as tecnologias disponíveis para combatê-la

Patrícia Feiten

publicidade

Altamente vulnerável ao clima, a agropecuária gaúcha sente cada vez mais os efeitos da mudança climática em curso. A adaptação a esse cenário aponta para adoção de tecnologias que permitam aos produtores não apenas se antecipar às alterações no regime de chuvas, como também crescer de forma sustentável. Guiada por esse mote, a 23ª edição da Expodireto Cotrijal começa nesta segunda-feira (6) em Não-Me-Toque, no noroeste do Estado, com os olhares voltados às práticas agrícolas inteligentes. Além de servir de vitrine de lançamentos, o evento, que prossegue até a sexta (10), no Parque de Exposições da Cooperativa Cotrijal, será uma jornada de debates sobre temas estratégicos para o setor no Rio Grande do Sul, como os projetos de irrigação.

O presidente da Cotrijal, Nei Manica, promete um evento marcante. Com a ampliação da área do parque de 98 hectares para 131 hectares e 580 expositores inscritos, entre os quais gigantes da indústria de máquinas agrícolas, os organizadores esperam repetir o sucesso da edição passada, que atraiu 263 mil pessoas e movimentou R$ 4,9 bilhões em vendas. “É uma exposição organizada pelo agricultor. Este é o homem que nós temos de valorizar, o homem do campo”, afirmou Manica no lançamento oficial da feira, no Hotel Deville, em Porto Alegre, no dia 6 de fevereiro. 

Para o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Gedeão Pereira, as propostas de flexibilização da legislação ambiental, que restringe atividades de reservação de água nas chamadas Áreas de Preservação Permanente (APPs), terão um peso importante no evento. “Iremos trabalhar, mais uma vez, a irrigação. Acho que será o grande tema dentro da Expodireto. Vamos discutir no nível estadual, com a Secretaria do Meio Ambiente e com a Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental)”, adianta Pereira. 

Apesar de terem desacelerado no ano passado, os preços de commodities agrícolas, como soja, milho e trigo, continuam favoráveis, segundo o presidente da Farsul, o que motiva expectativas positivas para negócios no evento, mesmo em meio aos prejuízos causados pela estiagem e à apreensão dos pecuaristas com o mal da vaca louca – a confirmação de um caso no Paraná levou o governo brasileiro a suspender as exportações de carne bovina para a China. “É uma feira de âmbito nacional, e a agricultura brasileira é feita (em grande parte) pelo povo gaúcho. O gaúcho vem de outras partes do país para ver os lançamentos e sempre compra, então, é uma feira que, para a nossa felicidade, é maior que o Estado do Rio Grande do Sul”, avalia Pereira.

Na mesma linha, o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (FecoAgro-RS), Paulo Pires, aposta que a feira se moldará à realidade atual vivida pelos produtores rurais, safra após safra atemorizados pelo espectro de estiagens recorrentes. “Nem sempre a Expodireto requer um ambiente otimista. Pelo contrário, às vezes (reflete) momentos de desafios. Creio que vamos ter um enfoque importante na questão da seca. É um episódio só do Rio Grande do Sul, infelizmente, e da Argentina”, diz Pires. 

Diferentemente de outros eventos do agro, a programação da Expodireto Cotrijal não inclui shows e atividades artísticas, o que, para o presidente da FecoAgro-RS, favorece o foco nos negócios e no debate de temas sensíveis para a agropecuária, como a pressão do bloco europeu por metas rígidas de redução das emissões de gases do efeito estufa. “Acho que (a feira) vem carregada de coisas como a questão da sustentabilidade, da irrigação. Para nós, do cooperativismo, é um orgulho: além, de ser uma grande feira, é idealizada e organizada por uma cooperativa”, diz o produtor.

Representante da agricultura familiar, o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, acredita que, após uma edição ainda marcada pelas restrições da pandemia de Covid-19, o evento deste ano marcará o “retorno à normalidade” e apresentará respostas às dificuldades enfrentadas pelo setor. “O agricultor pode conhecer as novas tecnologias, mas mais importantes são os debates, que devem ser muito nesta linha de se preparar para conviver com as estiagens com o menor prejuízo possível. Isso passa pela armazenagem de água, mas também pelas novas tecnologias de produção, de variedades de sementes mais resistentes à estiagem e (métodos de) manejo de solo”, afirma Carlos Joel. 

Segundo o titular da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Giovani Feltes, a participação do governo estadual no evento seguirá os moldes das edições anteriores. O secretário planeja estar presente no parque de exposições até a quarta-feira, mantendo a tradição de contatos com organizadores, produtores, agentes públicos, autoridades e representantes do agronegócio gaúcho. “É uma feira profissional, não só na comercialização dos maquinários, cada vez mais embarcados de tecnologia para facilitar a operação no campo. É um momento de grande nivelamento de conhecimento daquilo que de melhor se faz para bem produzir no mundo”, destaca o secretário.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895