Exportações de carnes devem encerrar ano com recorde

Exportações de carnes devem encerrar ano com recorde

Demanda da China é um dos fatores que impulsionaram bom desempenho dos embarques brasileiros de proteína bovina, suína e de frango

Patrícia Feiten

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Auxiliada por fatores como a alta demanda chinesa, o conflito entre Rússia e Ucrânia e crises sanitárias que prejudicaram a produção de proteína animal em países do Hemisfério Norte, a carne brasileira conquistou mais espaço no mercado internacional neste ano. Somadas, as exportações de carne bovina, suína e de frango – considerando produtos in natura e processados – ultrapassaram 7,611 milhões de toneladas de janeiro a novembro, de acordo com dados de entidades dos três setores, aproximando-se do resultado de todo o exercício de 2021. A perspectiva é de número recorde para o desempenho em 2022 frente ao ano anterior.

No caso da carne bovina, o país havia enviado ao exterior até novembro 2,158 milhões de toneladas, um avanço de 25% na comparação com os embarques do mesmo período de 2021, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). Com base em números parciais das duas primeiras semanas deste mês, o analista Fernando Iglesias, da consultoria Safras & Mercados, afirma que o Brasil caminha rumo a um recorde de 2,25 milhões de toneladas exportadas até dezembro, arrecadando cerca de 13 bilhões de dólares. “O desempenho é espetacular. A China tem um peso enorme: foi 55% de tudo o que o Brasil vendeu ao longo do ano e mais de 66% da receita”, avalia.

Embora o Brasil deva continuar liderando o ranking de exportadores de carne bovina em 2023, o cenário sinaliza que não repetirá o feito deste ano. Segundo Iglesias, os preços médios pagos pelos importadores chineses estão em declínio desde o início deste semestre. “É um dos motivos para a arroba do boi gordo não se manter a R$ 300 neste momento”, explica. Além disso, a China se prepara para ampliar em 400 mil toneladas a sua produção no próximo ano, para diminuir a dependência da proteína importada. “O Brasil vai ter menos oportunidades no mercado internacional, e estas vão vir com preços mais baixos”, prevê o analista.

No segmento da avicultura, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) espera confirmar, até o final de dezembro, um recorde de 4,8 milhões de toneladas exportadas de carnes de frango em 2022, um aumento de 5% frente aos volumes embarcados em 2021. O diretor de mercados da entidade, Luís Rua, lembra que, com a eclosão da guerra no leste europeu, a Ucrânia, um dos principais fornecedores da proteína, ficou fora do mercado de março até maio, o que favoreceu o Brasil. A epidemia de gripe aviária no Hemisfério Norte também contribuiu para o bom desempenho brasileiro. “O Brasil nunca teve um caso registrado e continua exportando para mais de 14 países”, destaca Rua.  

Para 2023, a ABPA prevê um aumento da demanda externa e projeta que o setor consiga atingir a marca de 5,2 milhões de toneladas, um 8,5% de aumento sobre o resultado esperado neste ano. Segundo Rua, apesar dos números recordes, o setor manteve os patamares de atendimento ao mercado interno. Hoje estimado em 45 quilos per capita, o consumo de carne de frango no Brasil é um dos mais altos do mundo, afirma o executivo.

Para as exportações de carne suína, após um primeiro semestre fraco, a expectativa é que setor encerre o ano com um resultado estável ou pouco inferior ao de 2021, quando foi embarcado um recorde de 1,187 milhão de toneladas. Principal cliente do Brasil, a China reduziu pela metade as compras no início do ano, mas voltou ao patamar mensal de 45 mil a 50 mil toneladas importadas neste segundo semestre, explica o diretor da ABPA. Com os surtos de peste suína africana em países na Ásia e na Europa, a projeção para os embarques em 2023 é de crescimento de 12%. “O Brasil abriu dois importantíssimos mercados neste ano, México e Canadá. O México importa mais de 1 milhão de toneladas todos os anos”, observa Rua. 

A demanda interna também deve continuar em alta. Segundo a ABPA, o consumo per capita no Brasil passou de 14 quilos há três anos para 18 quilos em 2022, refletindo a tendência de substituição da proteína bovina por opções mais baratas. “As pessoas passaram a conhecer mais a carne suína, e a indústria se preparou para oferecer um produto mais customizado, com (cortes) temperados e tamanhos reduzidos”, diz Rua.  


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