Fórum discute gargalos da bovinocultura gaúcha

Fórum discute gargalos da bovinocultura gaúcha

Palestrantes abordaram perda de mercado para outros estados e saídas para melhorar competitividade do setor

Patrícia Feiten

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Pecuaristas, empresários, técnicos e profissionais ligados ao setor de proteína animal participaram ontem da segunda edição na Fórum da Cadeia Produtiva da Carne Bovina, no auditório da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). Organizado pelo Instituto Desenvolve Pecuária, com o apoio da entidade e do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro/Ufrgs), o evento debateu alternativas para a carne gaúcha na visão do varejo, da indústria e da produção.

O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, que participou do seminário de forma virtual, iniciou sua explanação com um exemplo da disparidade entre preços de carnes produzidas no Rio Grande do Sul e as procedentes de outros estados. Ao comparar uma marca de picanha local e com outra de Rondônia, ambas encontradas em um supermercado gaúcho, o economista constatou que o produto vindo de fora custava 33% menos.

Segundo Da Luz, essas diferenças competitivas podem ser explicadas pelo baixo desempenho da pecuária gaúcha na comparação com outros estados, que têm custos de produção menores – segundo estudos apresentados pelo economista, a taxa de produtividade da bovinocultura de corte nos municípios de Alegrete e Pelotas, por exemplo, era de 7,5 e 2,7 arrobas por hectare, respectivamente, em 2021, frente a 32 arrobas por hectare em Goiânia. “Se a indústria tem ociosidade, as fazendas também têm. Nós produzimos menos porque produzimos um produto diferenciado”, afirmou. Na visão do economista da Farsul, o setor produtivo precisa conscientizar o consumidor sobre as características de qualidade que distinguem os produtos oferecidos no mercado. “Há quem possa pagar mais de R$ 80 pela picanha. Como cadeia, estamos sendo megaincompentes ou nos posicionando equivocadamente no mercado”, disse.

Também palestrante no evento, o professor Julio Barcellos, coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), sugeriu um olhar mais atento “para dentro da porteira”, enfatizando as preocupações que, segundo ele, devem mobilizar os pecuaristas neste momento. Para o professor, é preciso desviar o foco das questões conjunturais. “Me preocupo com problemas de natureza estrutural (no setor) que sempre se repetem”, disse.

Barcellos lembrou que, em breve, deve ter início o período reprodutivo na bovinocultura de corte. Os animais produzidos em novembro deste ano, explicou, só chegarão ao mercado em 2026. “Mil dias nos separam da atitude de hoje. Quanta coisa mudará até lá, como vamos tomar decisões hoje baseados em uma circunstância conjuntural?”, questionou. Para enfrentar esse cenário, o professor propôs que o setor invista fortemente em governança, com a inteligência de dados e informação norteando decisões voltadas à busca de competitividade.


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