Fórum do Trigo aborda oportunidades para cereal

Fórum do Trigo aborda oportunidades para cereal

Evento ocorre dentro da programação da Expodireto Cotrijal e promete debates sobre avanços da pesquisa agrícola, mercados e impactos de medidas como liberação de cultivo de trigo transgênico

Patrícia Feiten

publicidade

Do lançamento de variedades mais resistentes a pragas, doenças e escassez hídrica às perspectivas de mercado tanto no planto doméstico quanto no internacional, o Fórum do Trigo reunirá produtores rurais, pesquisadores, técnicos e analistas do setor agropecuário em torno das principais questões que hoje afetam a produção do cereal no país. Parte das atividades da 23a Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque, o evento será realizado na quarta-feira, dia 8, no auditório central da feira, com dois painéis e um debate final entre os palestrantes. A promoção é da cooperativa Cotrijal, que organiza a mostra, e da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).

O uso do trigo pela indústria de proteína animal como alternativa ao milho na formulação das rações de suínos e aves é um dos destaques da programação e será abordado em um painel com a participação do presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, e do presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Gedeão Pereira. As duas entidades e a Embrapa são parceiras no Programa Duas Safras, que busca fomentar o cultivo de trigo, triticale, centeio, cevada, canola e aveia no Rio Grande do Sul – hoje, a produção gaúcha de cereais de inverno equivale a apenas 9% do tamanho da safra de verão.

Para Santin, o investimento no programa envolve uma decisão estratégica. Nas últimas duas safras de verão, a produção de milho no Estado foi fortemente prejudicada pelas estiagens e a baixa oferta turbinou os preços da commodity, pressionando os custos de produção das indústrias. “O Brasil tem ampla oferta de grãos em seu território, mas precisa investir e incrementar a oferta de outros insumos além do milho para dar ainda mais segurança à cadeia de fornecimento da proteína animal”, observa o executivo.

O coordenador da Comissão do Trigo da Farsul, Hamilton Jardim, diz que os debates do fórum tendem a focar as novas oportunidades de mercado abertas para os cereais de inverno, como a produção de rações e de etanol, mas também aspectos que poderão impactar o plantio nos próximos anos. Entre esses, exemplifica o agricultor, estão o custo dos seguros agrícolas e o possível retorno, em 2023, do fenômeno El Niño, que provoca chuvas no Sul.

Outro tema de discussão, segundo Jardim, será a aprovação do cultivo e da venda de trigo geneticamente modificado tolerante à seca e ao glufosinato de amônio no Brasil. Com a decisão, anunciada na semana passada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), o Brasil passa a ser a segunda nação depois da Argentina a liberar para plantio a variedade de trigo HB4, desenvolvida pela Bioceres e apresentada no Brasil pela parceira Tropical Melhoramento e Genética (TGM). “O Brasil Central tem um problema seríssimo de falta de umidade para a expansão do cultivo de trigo, então (a variedade transgênica) pode vir para que rapidamente a gente chegue à autossuficiência na produção”, diz Jardim.

Hoje, a indústria moageira brasileira ainda depende do trigo importado. Mas, para o chefe-geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, um dos painelistas do fórum, a autossuficiência chegará em menos de cinco anos, graças à tecnologia. Em sua palestra, ele abordará os desafios que precisarão ser vencidos do ponto de vista da ciência, como o manejo das doenças fúngicas da giberela e do brusone, do problema da germinação da espiga e a tolerância ao estresse hídrico nas regiões tropicais, principalmente via melhoramento genético. “No momento em que celebramos a conquista coletiva da maior safra de trigo do Brasil – 10,6 milhões de toneladas, de um consumo de 12,4 milhões de toneladas –, é possível antever que o trigo fará o mesmo caminho da soja e do milho no Brasil, com produção sustentável”, diz.

Para o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (FecoAgro-RS), Paulo Pires, as discussões do fórum também deverão refletir as preocupações com o atual cenário de preços do trigo. Em 2022, 70% da safra recorde do cereal, projetada em 4,7 milhões de toneladas pela Emater/RS-Ascar, foi exportada, impulsionada pelas boas cotações no mercado internacional. Para 2023, a expectativa é que os embarques fiquem em torno de 2,7 milhões de toneladas. “Entendo que o grande tema do trigo é a viabilidade econômica para o próprio produtor, já que o preço caiu muito e os preços dos insumos caíram, mas não na mesma proporção. Isso pode impactar a área de trigo para o ano que vem”, avalia Pires.

 

O evento

15h15: 1º painel

Mercado do trigo: Elcio Bento, analista da consultoria Safras & Mercado

Tecnologia e pesquisa do trigo: Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo

Importância do trigo no sistema de produção: Geomar Corazza, coordenador da Rede Técnica Cooperativa (RTC)

Moderador: Marcelo De Baco, analista de Mercado da De Baco Corretora

 

16h15: 2º painel

Trigo na ração animal: Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)

Programa Duas Safras: Gedeão Pereira, presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul)

Moderador: Marcelo De Baco, analista de Mercado da De Baco Corretora


16h45: debate


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895