Falta de indicações sobre renegociação de dívidas no Plano Safra preocupa entidades gaúchas

Falta de indicações sobre renegociação de dívidas no Plano Safra preocupa entidades gaúchas

Lideranças querem solução para endividamento de agricultores que sofreram perdas com estiagem nas últimas safras e citam ainda que esperavam apoio para armazenagem e irrigação

Itamar Pelizzaro

Entidades esperavam anúncio de programa específico para socorrer agricultores prejudicados por falta de chuva nas duas últimas safras

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Setores do agro gaúcho ficaram satisfeitos com o volume de recursos anunciado no Plano Safra. No entanto, a falta de informações sobre parcelamento de débitos dos produtores atingidos pela estiagem no Rio Grande do Sul inquieta entidades do setor. “Nenhuma informação foi dada, o que gera grande preocupação, uma vez que os gaúchos são os maiores tomadores desses recursos e, sem esse parcelamento, deverá diminuir o número de produtores aptos”, disse o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz. “Não ocorreu uma prorrogação ampla, mas apenas dos bancos, com juros altos”, acrescentou o vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja do RS (Aprosoja), Décio Lopes Teixeira, para quem o plano foi bom no geral, mas ainda ficou faltando recursos para armazenagem e taxas mais baixas para a implantação de sistemas de irrigação.

O endividamento também está no radar do presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do RS (Ocergs), Darci Hartmann, que esteve em Brasília há poucos dias para buscar resolver essa pauta. “Estamos com expectativa de que possamos encaminhar uma solução definitiva para renegociar as dívidas dos produtores das nossas cooperativas, para resolver o passivo e depois ter acesso aos recursos novos”, afirmou. “Logo vamos começar os preparativos e comprar insumos para a safra de verão e temos que estar habilitados para acessar o crédito”, destacou Hartmann, para quem o Plano Safra atingiu as expectativas em relação aos volumes de liberação, mas não em relação ao custo financeiro, já que os juros não caíram. 

O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias (FecoAgro/RS), Paulo Pires, ficou satisfeito com o volume de recursos, considerado significativo. “É quase automático o aumento dos volumes porque a safra tem aumentado e estamos batendo recordes a cada ano, então a disponibilidade de recursos não pode ser diferente. Quanto maior a safra, maior a necessidade de recursos, então é um ponto positivo”, salientou. Pires entende que a questão dos juros passa por decisão técnica do Banco Central e que estão no patamar possível. 

Pires também considerou positiva a premiação a produtores que adotam práticas de sustentabilidade. “Nós fazemos a agricultura mais conservacionista do mundo, temos um CAR extraordinário, mas existe um gatilho no financiamento para incentivar o produtor que está fazendo isso”, destacou. Ele citou que o cooperativismo gaúcho tem o programa Operação 365, em conjunto com Embrapa e Rede Técnica Cooperativa (RTC), para conservação do solos. “É um exemplo extraordinário, e essa medida do governo vem estimular nosso programa, por isso estamos muito felizes”, ressaltou.

Pires aguarda agora as informações do Plano Safra da Agricultura Familiar, que será lançado nesta quarta-feira. “Esperamos que tenhamos para os agricultores das cooperativas do Rio Grande do Sul uma política pública ou programa específico para a estiagem, para as perdas que ocorreram nas duas últimas safras. Isso é fundamental e necessário e estamos esperando isso.”

O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, lembrou que uma parcela da agricultura e pecuária familiar, devido aos valores desatualizados de enquadramentos, acaba tendo de aderir ao Pronamp em vez ao Pronaf. “Consideramos como sendo bom o Plano Safra anunciado hoje, mas esperávamos juros menores, o que seria muito importante para atender às necessidades dos agricultores. Com o aumento dos recursos, em conjunto com a baixa nos custos de produção, será possível atender um maior número de pessoas. Agora, vamos trabalhar no sentido dos programas diferenciados que precisam ser implementados”.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895