Falta de luz ameaça qualidade do arroz em colheita na Campanha e na Região Sul do Estado

Falta de luz ameaça qualidade do arroz em colheita na Campanha e na Região Sul do Estado

Após temporal de 21 de março, desabastecimento ocasiona perdas na secagem e no armazenamento dos grãos

Poti Silveira Campos

El Niño provocou atraso no plantio do arroz e estragos nas lavouras

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Os rizicultores gaúchos mobilizam-se para conseguir o restabelecimento de energia elétrica em, pelo menos, dez localidades produtoras do grão no interior que seguem sem energia elétrica desde o temporal de 21 de março. Os esforços também objetivam assegurar que não ocorram novas interrupções no fornecimento, principalmente porque as lavouras estarão em colheita até meados maio.
A situação é verificada em diversos municípios, embora em diferentes graus. Entre eles, estão três dos dez maiores produtores do cereal no Estado: Arroio Grande, Dom Pedrito e Santa Vitória do Palmar. Os prejuízos também afetam Bagé, Herval, Jaguarão, São Borja, Pedras Altas, Pinheiro Machado, Piratini, Rio Grande, Capão do Leão e Pelotas, dentre outros. As perdas ocorrem tanto na secagem como no armazenamento, afetando diretamente a qualidade dos grãos.
Nesta segunda-feira, dia 8, o presidente da Associação dos Arrozeiros de Santa Vitória do Palmar e Chuí, Ailton Nicoletti, reúne-se com o prefeito de Santa Vitória, Wellington Bacelo dos Santos. Ambos vão tratar da questão e de outros problemas que afligem os rizicultores da região, como a situação das estradas. Nicoletti afirma que o serviço de fornecimento de eletricidade causou transtornos durante a irrigação, no final de novembro:

“Não era só a falta de energia, mas também da qualidade da energia. Contratamos uma coisa e nos forneceram outra. Agora, no último temporal, teve produtor que ficou uma semana sem luz”, comenta Nicoletti.

Hoje, também deve ocorrer uma reunião no Fórum Central de Porto Alegre para debater a questão. O diretor Jurídico da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Anderson Belloli, conversará com o juiz responsável pela ação ajuizada pela entidade, desde o ano passado, para garantir o fornecimento de energia elétrica ao campo.

“Vamos, mais uma vez, levar ao Judiciário, a necessidade de uma decisão liminar sobre o fornecimento desse insumo”, pontua Belloli.

O presidente da Federarroz, Alexandre Velho, afirma que a morosidade no reestabelecimento da eletricidade amplia os desafios da safra já afetada pelo fenômeno El Niño. “Deveríamos estar com 70% ou 80% da colheita encerrada, mas chegamos a 40%. Temos de acelerar para não sofrermos perdas ainda maiores”, alerta. “Existe um retorno da Equatorial de que está ciente do problema, mas alega a necessidade de refazer a rede elétrica”, completa.

Problema recorrente

Em Bagé, o presidente da Associação e Sindicato Rural, Geraldo Corrêa de Mello, contabiliza mais de duas semanas de interrupção de energia na região, como em Pinheiro Machado e Pedras Altas. Sem ainda quantificar as perdas, o dirigente aponta, ao menos, prejuízo com a elevação nos custos de produção com a compra ou a locação de geradores. “A reclamação é grande. Esperamos maior eficácia, o quê, aliás, não tínhamos desde que a companhia era estatal. Precisamos de maior respeito”, reforça.

A Estância da Gruta, em Capão do Leão, foi uma das propriedades da região Sul do Estado a passar dez dias sem energia elétrica após o temporal de 21 de março. A ocorrência, no entanto, é a segunda neste ano. Com as lavouras em plena colheita, a dificuldade do proprietário Antônio Quinto Di Cameli foi secar e armazenar a produção.


Correio do Povo
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