Fase de incertezas no mercado de fertilizantes

Fase de incertezas no mercado de fertilizantes

Oferta de fertilizantes começou a sofrer abalos ainda no final do ano passado

Danton Júnior

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A dependência brasileira de insumos importados, em especial fertilizantes da Rússia, preocupa autoridades e faz com que o produtor tenha de estar atento ao cenário para a próxima safra, já que a tendência é de valorização destes produtos. Nos últimos dias, multinacionais do setor têm alertado para o risco de desabastecimento. 

A oferta de fertilizantes começou a sofrer abalos ainda no final do ano passado, quando o governo russo limitou as exportações do produto como forma de suprir a demanda interna. Mas os problemas se acentuaram após o avanço das tropas para a Ucrânia. Segundo o analista de Inteligência de Mercado em Fertilizantes da StoneX, Luigi Bezzon, os preços dos derivativos dos fertilizantes nitrogenados saltaram em até 200 dólares para as entregas mais próximas (março e abril) na última semana. A ureia, que estava cotada a 900 dólares no final do ano passado, chegou a apresentar queda de preço internacional em janeiro e fevereiro, para cerca de 600 dólares, mas voltou a subir cerca de 150 dólares com a iminência do conflito armado.

Embora nenhum país tenha barrado a compra de fertilizantes da Rússia, Bezzon explica que o impacto se dará de forma indireta, por meio do bloqueio do sistema de comunicação interbancária Swift. “As empresas não vão mais conseguir comprar fertilizantes através das instituições financeiras tradicionais”, resume. Soma-se a isso o fato de Belarus não estar conseguindo exportar potássio para o Brasil. O motivo é o bloqueio do porto na Lituânia, por onde a carga era transportada. Juntos, Rússia e Belarus são responsáveis por quase metade do fornecimento global de potássio. Nos nitrogenados, os russos respondem por 17% do mercado.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja/RS), Décio Teixeira, recomenda que o produtor esteja atento às oportunidades de mercado e faça a análise de solo junto a um engenheiro agrônomo para observar como poderá utilizar as reservas de nutrientes. Na avaliação do dirigente, o conflito no Leste Europeu trouxe ao Brasil uma oportunidade de reflexão sobre a necessidade de autossuficiência nestes insumos. “Temos jazidas enormes de potássio no país, mas temos empecilhos na questão ambiental”, afirma.

Nesta quarta-feira, em sua conta no Twitter, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que, em função da guerra, o Brasil corre “o risco da falta do potássio ou aumento do seu preço” e defendeu a aprovação do projeto de lei nº 191/2020, que “permite a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em terras indígenas”. 


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