Filipinas apresenta variedade de arroz tolerante ao sal
Alternativa pode resolver dificuldades de cultivo na Planície Costeira Interna e Externa à Lagoa dos Patos
publicidade
Estimativas do setor indicam que, apenas na Planície Costeira Externa e ao longo do canal São Gonçalo, pelo menos 5 mil hectares de várzeas foram abandonados. Essas áreas, onde o índice de salinidade chega a 5 dS/m (deciSiemens por metro), acabaram limitadas à pecuária. Apesar de impor restrições às terras gaúchas, pesquisadores indicam que o problema no RS está bem aquém do das Filipinas, onde a salinidade atinge índices entre 9 e 12 dS/m. No Estado, os patamares não passam de 6 dS/m.
Os dados foram levantados em trabalho de monitoramento da salinidade na Lagoa dos Patos e mapeamento do solo nas lavouras do entorno desenvolvido pelo Irga. Os pontos de coleta de amostras de água são Mostardas, Tavares, Bojurú, Tapes, Camaquã, Pelotas (Lagoa dos Patos) e Torres (rio Mampituba). Além destes locais, algumas lavouras nos municípios de Imbé e Tramandaí também podem apresentar, esporadicamente, problema de salinidade em função do uso de água do rio Tramandaí. O estudo identificou, ainda, que a salinidade pode ter origem tanto na água quanto na própria formação do solo.
Segundo o pesquisador do Irga Felipe Carmona, como o índice médio de salinidade no RS está abaixo do filipino, torna-se bem mais fácil adaptar a variedade desenvolvida para o cultivo no Estado. Na visão dos produtores, a novidade preencheria uma lacuna. "Não temos uma variedade como esta no mercado. Sem dúvida, os arrozeiros gaúchos que enfrentam este problema poderão, futuramente, ter ganho em produtividade", acredita o presidente da Federarroz, Renato Rocha.
Enquanto a variedade não chega ao Brasil, Carmona explica que arrozeiros enfrentam o dilema do cultivo em alta salinidade. Para eles, há apenas duas alternativas: irrigar, arriscando perder uma parte da safra, ou não irrigar e esperar pela chuva para repor mananciais. A opção pela irrigação envolve riscos. "Se a lavoura tiver em estágio reprodutivo, as flores abortam e não se forma o grão, além de comprometer o solo para a safra seguinte", frisa.
Estudo cruzou grão selvagem e comercial
A variedade de arroz tolerante ao sal é fruto do cruzamento de uma espécie selvagem encontrada em Bangladesh em áreas de água salobra (Oryza coarctata) com outra própria para o consumo (IR56). O cruzamento foi difícil, tendo em vista a grande diferença entre os genomas das espécies, mas resultou em uma planta com o dobro da resistência e capaz de expulsar o sal através de glândulas nas folhas, não acumulando-o no grão.
A cultivar poderá permitir a recuperação de milhões de hectares de áreas costeiras que não podiam ser utilizadas devido à proximidade com a água do mar, beneficiando comunidades em todo mundo. De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa em Arroz (IRRI), a expectativa é que a nova variedade esteja disponível para ser cultivada em quatro ou cinco anos.