Fiscal que denunciou Carne Fraca diz que questão sanitária ainda está sob sigilo

Fiscal que denunciou Carne Fraca diz que questão sanitária ainda está sob sigilo

Daniel Gouvêa Teixeira afirmou que prejuízos nas exportaçõe são reflexo da corrupção das empresas

Correio do Povo e Rádio Guaíba

Prejuízos nas exportações são reflexo da corrução das empresas, avalia fiscal

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Para o fiscal agropecuário federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Daniel Gouvêa Teixeira, responsável pela primeira denúncia que originou a Operação Carne Fraca, os prejuízos nas exportações de carne brasileira são reflexo da corrupção das empresas.  

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"Nada disso teria acontecido se as empresas não participassem do esquema de corrupção. A gente percebe que tem um viés político e o envolvimento da iniciativa privada. Eu acredito que as empresas são vítimas do sistema que elas participaram. Fico me perguntando como fica o quadro de acionistas? O salário deles estava sendo descontado para o pagamento de propinas?", questionou Gouvêa em entrevista à Rádio Guaíba nesta quinta-feira.

Na avaliação de Gouvêa, o que está sendo exposto pela imprensa após a operação representa muito pouco da real investigação. "O que falta ainda aparecer é a parte sanitária. Tem muita coisa que ainda está em sigilo. A população tem que ter calma porque se houvesse risco de saúde, meus colegas e eu já teríamos feito alguma coisa antes. A questão da saúde está salvaguardada. Pelo que sei, já temos dois presos que esclareceram muita coisa e dois pedidos de delação premiada", relatou. 

A origem da denúncia

O fiscal agropecuário relembrou que dos 33 servidores envolvidos no suposto esquema, 17 são auditores fiscais agropecuários e o restante é de nivel médio. "Eles não representam o todo do que foi investigado na operação. O número de pessoas envolvidas eu não tenho, mas creio que a investigação já tenha, porque eu não participei dessa parte. Tem muita coisa por vir porque as minhas denúncias são de coisas que começam em 2014, mas há colegas meus que relataram fatos que datam de meados de 2012", explicou. 

Daniel Gouvêa afirmou ainda que o esquema começou a ficar evidente quando ele começou a detectar problemas e interferências de proprietários de frigoríficos. "Eu fui afastado da fiscalização e depois transferido para outro setor, que era de medicamentos veterinários. Fiz denúncias ao Mapa e ao mesmo temo para a Polícia Federal, porque sabia que no ministério existia o risco dos relatos não receberem o devido tratamento", observou. "É claro que a PF foi muito mais ágil em relação a isso", completou.

Corrupção  

Ao ser questionado sobre como se dava a corrupção dentro do Mapa, Daniel Gouvêa revelou que chegou a ser interpelado para participar do suposto esquema. "Chegava indiretamente. Sei de pessoas que me pesquisaram para saber se eu entraria nisso. Vieram até mim e eu disse que não. O que a gente observou é que a organização criminosa tirava os fiscais que trabalhavam corretamente. Eles faziam vistas grossas no controle de qualidade da carne", relatou. 

CPI 

Gouvêa considera que a possível instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) servirá apenas como uma tentativa de proteção. "Na verdade, todos querem ter acesso ao inquérito para poder saber como criar a sua defesa no futuro. É o momento da autopreservação, então vão dizer que precisa de CPI, até porque ninguém sabe o que vem pela frente. Não foi mostrado nem 1% do que foi descoberto pela Polícia Federal. Eu acredito nisso e digo no sentido de volume de importância, não em volume de documentos", reiterou. 

Canal Azul 

O fiscal agropecuário destacou que a operação não está centralizada apenas em frigoríficos. "Tem mais de 70 empresas investigadas e são companhias da área de importação e exportação, outras ligadas à área de sementes e fertilizantes. Não podemos pensar que é só frigorífico", avisou. 

Gouvêa lembrou que o Canal Azul, sistema de informações gerenciais do trânsito internacional de produtos e insumos agropecuários que foi criado pelo Mapa, pode estar sendo usado de forma indevida. "Temos o caso de duas pessoas que operariam o sistema inteiro de importação e exportação do Brasil. Se o Canal Azul está nas mãos de uma organização criminosa, o poder dela é muito amplificado", finalizou. 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895