Frente Parlamentar tenta revogar proibição do Carbendazim

Frente Parlamentar tenta revogar proibição do Carbendazim

Projeto de Decreto Legislativo foi protocolado na Câmara para isso

Camila Pessôa

De acordo com deputado, utilização do fungicida é comum no cultivo do arroz

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A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) pediu revogação da proibição do fungicida Carbendazim na última terça-feira (9), por meio do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 312/2022. A proibição consta na Resolução 739, aprovada pela  Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na última segunda-feira (8), e tem como base levantamento técnico da entidade que constatou que não é possível determinar um limite de exposição à substância que não ofereça riscos à saúde reprodutiva e desenvolvimento embrionário humanos.

O PDL proposto revoga a decisão da Anvisa e ainda deve tramitar nas comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; de Seguridade Social e Família; de Constituição e Justiça; e de Cidadania. A justificativa da ação, segundo o deputado da FPA José Mário Schreiner (MDB-GO), é de que o Brasil utiliza largamente o fungicida, em especial nas culturas de arroz e feijão. De acordo com a Anvisa, o produto é um dos 20 agrotóxicos mais utilizados no Brasil.

Segundo o deputado, o Carbendazim, por ser um fungicida de amplo espectro, precisaria ser substituído nas lavouras por quatro ou cinco produtos diferentes e cessar sua utilização aumentaria o preço dos alimentos no Brasil em 11%, como apontou estudo apresentado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), baseado em relatório da Spark Inteligência de Mercado. “A Anvisa alega que ele faz mal à saúde, principalmente de quem trata, mas ela esquece que hoje todos os produtores, os trabalhadores rurais, usam Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), são treinados para esse produto”, argumenta Schreiner. Outra colocação é de que geralmente as sementes são banhadas no agrotóxico, que se degrada posteriormente no solo.

Porém, a utilização de EPIs e uso do fungicida apenas para embeber sementes não são suficientes para acabar com os riscos da utilização do carbendazim, como explica a doutora em Ciências Farmacêuticas - Toxicologia, professora da Universidade de Passo Fundo (UPF) e membro da Sociedade Brasileira de Toxicologia Luciana Grando. Segundo ela,o fungicida é sistêmico de lenta degradação. Isso quer dizer que a substância chega ao interior das estruturas da planta - inclusive aos frutos - e permanece por um longo período de tempo. Ela conta que os resíduos do produto podem permanecer até 12 meses no solo e 22 dias nos frutos, o que coloca a população consumidora em risco. “O fato do trabalhador usar EPI minimiza (os riscos), mas a população em geral pode ser afetada pelo fungicida”, afirma.

Além disso, a degradação do fungicida gera um subproduto chamado 2 aminobenzimidazol, descrito pela especialista como “super tóxico” e que afeta principalmente o desenvolvimento embrionário humano. Assim, Grando avalia: “a posição da Anvisa está correta porque de fato não existe uma dose segura”. Porém, a especialista lembra que a substituição do agrotóxico por múltiplos produtos diferentes pode gerar contaminação igual ou até pior que o carbendazim, por isso, é preciso avaliar as alternativas com cautela. “Precisamos de produtos mais modernos com perfis de persistência e toxicológicos mais adequados”, diz.

A Anvisa consultou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a respeito da possibilidade de substituição do produto. Este informou que “não há preocupação relevante com substitutos para o Carbendazim, pois existem diversos produtos que podem cumprir o seu papel”, como consta na decisão a favor da proibição do agrotóxico, que também é proibido na União Europeia.


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