Geopolítica impacta oferta de insumos agropecuários

Geopolítica impacta oferta de insumos agropecuários

Setor teme que impasse entre países fornecedores aumente preços ainda mais

Patrícia Feiten

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As tensões entre países do leste europeu que são grandes fornecedores mundiais de insumos agrícolas, como fertilizantes à base de potássio e defensivos, sinalizam incertezas para a produção brasileira, segundo analistas de mercado. O temor é que o impasse envolvendo Rússia, Ucrânia e Belarus – com as possíveis reações do Ocidente – reduza a oferta e turbine ainda mais os preços dos produtos. Desde o ano passado, agricultores brasileiros enfrentam escassez de alguns itens, um efeito da desorganização das cadeias logísticas internacionais causada pela pandemia de Covid-19.

A analista Maísa Romanello, da Safras & Mercado, observa que o Brasil já vinha sendo afetado com as sanções impostas pelos Estados Unidos a Belarus – segundo maior fornecedor de potássio ao país, atrás apenas da Rússia. “Isso fez com os preços do potássio saíssem dos 300 dólares (a tonelada) no início de 2021 para os 800, 900 dólares (atuais)”, diz Maísa. Uma eventual invasão russa na Ucrânia poderia elevar os preços e agravar o quadro, já que a Rússia é também um grande produtor de gás natural. “Ela já vem ameaçando que, se sofrer sanções (dos EUA), vai interromper o fornecimento”, destaca.

Para o analista Carlos Cogo, uma normalização na oferta de fertilizantes e defensivos só deve ocorrer no segundo semestre deste ano. Ele lembra que a crise logística internacional ainda persiste e que não há perspectivas de redução dos preços de fretes marítimos. Com a escalada da crise no leste europeu, a recomendação aos produtores é que não protelem decisões de compra de insumos à espera de uma trégua nos preços. “Não há ambiente para isso e, se vier um problema geopolítico maior, é difícil prever o que vai acontecer (com a oferta)”, alerta Cogo.

Na avaliação do analista e professor Argemiro Luís Brum, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), outra incógnita é o câmbio, que eleva o custo dos insumos importados em reais. Em queda há cinco semanas consecutivas, o dólar acumula recuo de 1,21% neste mês e de 5,98% no ano até a última sexta-feira. “(A moeda baixou), mas não se sabe por quanto tempo”, afirma Brum. A adoção de políticas protecionistas pelos países também indica dificuldades. “Temos decisões de política econômica dos fornecedores, principalmente Rússia e China, para manter o abastecimento interno, isso já é um elemento altista para preços”, avalia o professor. 

Na última semana, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), que representa 26 indústrias do país, divulgou nota em que menciona “instabilidade no fornecimento de insumos básicos” para a produção do setor. De acordo com a entidade, a questão mais preocupante refere-se à China. “A China tem sofrido com uma crise energética que tem afetado diretamente o abastecimento de matérias-primas no Brasil”, informou o Sindiveg por meio de sua assessoria de imprensa.


Correio do Povo
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