Guerra muda o cenário da oferta de trigo no planeta

Guerra muda o cenário da oferta de trigo no planeta

Fórum debateu possíveis efeitos do conflito entre Rússia e Ucrânia para a triticultura do país, além de apresentar Programa Duas Safras

Patrícia Feiten

Minetto afirmou que geopolítica exige moderação no uso de fertilizantes

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Com as atenções voltadas para o palco geopolítico, o Fórum do Trigo foi um dos destaques da programação da Expodireto Cotrijal nesta quarta-feira. O evento debateu os possíveis efeitos do conflito entre Rússia e Ucrânia no mercado brasileiro de trigo e apontou perspectivas para a próxima safra de inverno no Rio Grande do Sul.

O economista da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (FecoAgro/RS) e coordenador da Câmara Setorial do Trigo, Tarcísio Minetto, destacou que a guerra no Leste Europeu mudará o cenário da oferta do cereal e elevará o preço dos insumos agrícolas. Os dois países são grandes produtores de trigo, e a Rússia é o maior exportador mundial de fertilizantes. “Isso exigirá um uso eficiente dos agroquímicos e moderação no uso de fertilizantes”, ressaltou Minetto. Apesar da alta de custos, a tendência de valorização internacional do cereal sinaliza boas perspectivas de lucro para a safra 2022, acredita o economista – desde o início da guerra, as cotações do trigo na Bolsa de Chicago dispararam, com o bushel negociado a 13 dólares nos contratos futuros para maio.

No ano passado, o Estado aumentou em 25% a área cultivada com trigo, que chegou a 1,165 milhão de hectares, e colheu cerca de 3,4 milhões de toneladas – a maior safra da história. “Acredito que a área de trigo vai crescer muito este ano, é a oportunidade de renda do produtor no inverno”, disse Minetto, que projeta uma safra de 4 milhões de toneladas.

Na segunda parte do evento, o agrônomo Hamilton Jardim, coordenador da Comissão do Trigo e Culturas de Inverno da Farsul e presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Culturas de Inverno do Ministério da Agricultura, apresentou um esboço do Programa Duas Safras. O plano, que vem sendo traçado em parceria com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Embrapa, busca incentivar o plantio de cereais de inverno com foco no abastecimento da indústria de rações animais.

Com o projeto, explicou Jardim, a ideia é ocupar áreas agrícolas que ficam ociosas na estação fria, especialmente na Metade Norte do Estado, onde estão concentrados os alojamentos de aves e suínos. No ano passado, os cereais de inverno representaram apenas 1,614 milhão de hectares plantados no Rio Grande do Sul, enquanto na safra de verão a área ocupada com soja e milho chegou a 6,8 milhões de hectares, comparou o agricultor.

A intensificação do plantio de cereais de inverno também foi o tema do chefe-geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, que encerrou o evento apresentando soluções tecnológicas para mitigar os efeitos da estiagem no Sul do Brasil. O pesquisador destacou as oportunidades financeiras representadas pelos cereais, como a oferta de matéria-prima para a indústria de alimentação animal e produção de etanol – só na indústria de rações, o déficit de milho chega a 7 milhões de toneladas, comentou. Segundo o palestrante, o agricultor deve tomar decisões que garantam economia no uso de recursos como fertilizantes, fungicidas e sementes, mas sem perda do potencial produtivo da lavoura. 


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