Impacto do conflito tende a chegar à agroindústria

Impacto do conflito tende a chegar à agroindústria

Produção de proteína animal pode enfrentar elevação de custos do milho e do trigo e problemas para receber valores de exportações para a Rússia

Danton Júnior

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A indústria da proteína animal acompanha com atenção os desdobramentos do conflito no Leste Europeu. Tanto Rússia quanto Ucrânia são considerados grandes produtores de milho e trigo. Como os dois grãos são importantes componentes da ração animal, o abalo deste mercado poderia pressionar ainda mais os custos da produção e processamento de carne de suínos e frangos. Estes produtos, por sua vez, têm na Rússia um de seus grandes compradores. Porém, as sanções internacionais àquele país podem causar impactos nos embarques brasileiros. 

Em novembro do ano passado, a Rússia retomou a importação de carne suína e bovina de frigoríficos brasileiros, que havia sido interrompida em 2017 porque o país euroasiático afirmou ter detectado no produto a presença do aditivo ractopamina, usado na alimentação animal. Ao informar que voltaria às compras, o serviço oficial russo também anunciou a habilitação de 13 frigoríficos brasileiros, sendo sete deles localizados no Rio Grande do Sul. Para a carne suína, a cota estabelecida foi de 100 mil toneladas, com validade entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2022. A ampliação dessa cota vinha sendo negociada pelo governo brasileiro.

“Fica a expectativa de como isso irá se viabilizar em termos de operacionalização de pagamentos, até porque o sistema financeiro está incluso nas sanções estabelecidas pelo Ocidente (à Rússia)”, observa o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul (Sips/RS), Rogério Kerber. Para o executivo, cabe ao Brasil adotar um critério “cuidadoso” em meio ao conflito.

O presidente executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, afirma que o setor está atento à possibilidade de um abalo cambial, com o temor de que o produto brasileiro seja desvalorizado em momento de custos elevados para o segmento. De acordo com ele, a avicultura já foi mais dependente das compras russas, mas ampliou o seu leque de parceiros comerciais após restrições daquele país.

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informou, em nota, que o setor produtivo está monitorando o fluxo internacional de insumos e alimentos e os eventuais impactos do conflito, “com perspectivas de aumentos ainda maiores dos custos de produção”. Ao mesmo tempo, a manifestou a convicção de que não deve haver fronteira para os alimentos. “Neste sentido, os setores brasileiros torcem pela retomada do diálogo e a desaceleração do conflito”, conclui o texto.

Segundo a ABPA, a Rússia está entre os dez principais importadores de carne de frango do Brasil e, historicamente, é um dos principais destinos da carne suína brasileira. A Ucrânia compra atualmente carne de frango do Brasil, sendo que as tratativas para a reabertura do mercado da carne suína estão em curso. 


Correio do Povo
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