Importação de lácteos cresce 240% no semestre

Importação de lácteos cresce 240% no semestre

Entidades de pecuaristas e indústrias buscam medidas de apoio dos governos federal e estadual para fazer frente à concorrência de produtos da Argentina e do Uruguai, que entram no mercado com preço menor

Patrícia Feiten

“Estamos defendendo que a implementação de cotas ou tarifas de importação ajudará a assegurar a sustentabilidade do setor”, afirma o vice-presidente do Sindilat, Eugênio Zanetti.

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O Brasil importou no primeiro semestre deste ano quase 116 mil toneladas de leite, creme de leite e lácteos (exceto manteiga e queijo), volume 240% superior ao registrado no mesmo período de 2022, de acordo com dados da plataforma ComexStat, do governo federal. Em valores, essas importações corresponderam a cerca de 443 milhões de dólares, um crescimento de 268,7% na mesma base de comparação. A maior parte dos negócios envolveu compras da Argentina e do Uruguai.

A disparada das importações é motivo de apreensão dos pecuaristas gaúchos, que nos últimos dois anos enfrentaram prejuízos com estiagens e reclamam de desvantagem na competição com o produto estrangeiro. De acordo com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), o leite em pó argentino e o uruguaio, por exemplo, entram no país com preços de R$ 19,25 e R$ 21,06 o quilo, enquanto o produto brasileiro custa em média R$ 26. Isso ocorre porque os pecuaristas dos países vizinhos contam com subsídios e incentivos governamentais, o que lhes permite reduzir custos de produção, diz a entidade.

No próximo dia 17, a diretoria da Fetag-RS se reunirá com coordenadores regionais e definirá ações para pressionar o governo federal a adotar medidas de socorro ao setor. “Estamos defendendo que a implementação de cotas ou tarifas de importação ajudará a assegurar a sustentabilidade do setor e reduzir os impactos negativos causados pelo desequilíbrio na cadeia produtiva do leite”, afirma o vice-presidente da entidade, Eugênio Zanetti.

O secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios (Sindilat-RS), Darlan Palharini, sugere que se busquem soluções em conjunto com o governo estadual, por meio do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e do Badesul, para dar algum fôlego aos produtores. Um das propostas da entidade é o refinanciamento de dívidas dos pecuaristas com o setor financeiro, a exemplo da política de incentivo praticada pelo governo uruguaio. O sindicato defende ainda a desoneração tributária de alguns equipamentos usados na produção de leite, como ordenhadeiras, assunto que será tratado em uma reunião com a Secretaria da Fazenda na próxima semana, segundo Palharini. “Entendemos e que dá para se trabalhar na redução de ICMS de equipamentos que (impactam) diretamente no custo de produção”, diz o dirigente.

De acordo com o ICPLeite, calculado pela Embrapa Gado de Leite, os preços de insumos usados na produção de leite me junho recuaram 4,3% em relação a maio. No primeiro semestre, a queda do índice foi de 4,8% na comparação com o acumulado de janeiro a junho de 2022. Mesmo com a trégua, as lideranças de produtores afirmam que as dificuldades enfrentadas pelo setor estão levando muitos a desistir da bovinocultura de leite. Não existem, porém, dados precisos sobre esse abandono. A cada dois anos, a Emater/Ascar-RS realiza um levantamento sobre a atividade leiteira no Estado. Segundo o extensionista Jaime Ries, um estudo atualizado será apresentado durante a 46ª Expointer, que ocorre de 26 de agosto a 3 de setembro, em Esteio.


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