Importações de alho impactam produtor brasileiro

Importações de alho impactam produtor brasileiro

Produto procedente da Argentina eleva oferta local e acaba derrubando preços do item cultivado no Brasil, afirma entidade

Patrícia Feiten

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O ritmo acelerado das importações de alho da Argentina vem impactando fortemente os agricultores brasileiros que se dedicam à cultura. De acordo com a Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa), o aumento da oferta na última safra do item achatou ainda mais os preços do alho brasileiro, que chega ao mercado menos competitivo que o importado. O problema é agravado pelo ingresso de cargas procedentes do país vizinho por meio de contrabando, afirma a entidade, que planeja pedir ao governo federal a adoção de medidas para limitar a entrada de volumes estrangeiros.

No ano passado, a área de cultivo de alho no Brasil totalizou 18 mil hectares e a produção chegou a 23 milhões de caixas de 10 quilos, segundo o presidente da Anapa, Rafael Corsino. A safra local, porém, supre no máximo 65% da demanda de consumo, e o restante vem principalmente da Argentina – nos últimos três anos, o país enviou mais de 8 milhões de caixas ao Brasil, frente à média de 5 milhões de toneladas verificada nos anos anteriores, compara Corsino. Ele explica que o fato de o país vizinho realizar a colheita na mesma época que o Rio Grande do Sul prejudica os gaúchos. “O alho produzido na Região Sul deveria ser vendido em fevereiro e março, mas muitos não venderam. O produto acaba perdendo qualidade e agora eles têm de vender abaixo do preço de mercado”, observa.

Segundo o presidente da Anapa, parte do alho argentino fica ainda mais barata que o produto nacional porque não passa pela etapa de beneficiamento antes do ingresso no Brasil. “Este alho, que deveria ir para o galpão e passar pela fiscalização da Senasa (Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina), sai direto do campo, entra por contrabando por Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná e vem ser classificado dentro do território brasileiro”, afirma Corsino. A situação dos brasileiros, diz ele, só não é pior porque recentes apreensões de alho e cebola importados irregularmente feitas pela Receita Federal e pelo Ministério da Agricultura enxugaram parte da oferta. Com isso, o preço médio da caixa subiu de patamares entre R$ 90 e R$ 100 em março para a média atual de R$ 130 a R$ 140.

Um dos maiores produtores de alho do Rio Grande do Sul, o município de São Marcos colheu no ciclo 2022-2023 em torno de mil toneladas do produto – uma média de 10 toneladas por hectare. O extensionista da Emater/RS-Ascar Rudinei Girardello relata que os agricultores locais amargaram em 2023 um dos piores anos na comercialização da safra. “Quem conseguiu vender vendeu a um preço que nem cobriu o custo de produção”, afirma o técnico.

Segundo Girardello, a ocorrência de problemas fitossanitários vêm desestimulado o plantio na região. A principal doença é a chamada podridão branca do alho, causada por um fungo que sobrevive no solo por até uma década, inviabilizando áreas de cultivo. Com a concorrência do alho importado, muitos agricultores desistem da cultura. “Há 10 anos, chegamos a cultivar 650 hectares no município. E vai reduzir mais, pela nossa expectativa”, diz o extensionista.


Correio do Povo
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