Incertezas marcam o ano do setor primário gaúcho

Incertezas marcam o ano do setor primário gaúcho

Extremidades climáticas, insegurança jurídica e desaceleração do mercado agropecuário estão entre principais desafios de 2023, aponta a Farsul

Itamar Pelizzaro

Gedeão Pereira lembrou demandas estaduais, como irrigação e aspectos legais que envolvem o bioma Pampa

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O ano que começou com (mais uma) estiagem e com preços agropecuários em queda, e se encerra com excesso de chuva e atraso no plantio da safra gaúcha de verão, foi resumido como um período de “enormes desafios” pelo presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira. Em tradicional balanço anual da entidade, realizado nesta terça-feira, em Porto Alegre, o dirigente também manifestou “profundas preocupações” com o direito à propriedade e posicionou-se contrário a qualquer aumento de carga tributária, referindo-se especificamente à tentativa de o Estado elevar o ICMS de 17% para 19,5%.

“O campo não funciona com insegurança. Se nós quisermos um Brasil que continue progredindo, o agro não abre mão de segurança jurídica em questões ambientais, de invasões de terras pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra), de questões quilombolas e indígenas”, afirmou.

Pereira citou questões como as discussões envolvendo o marco temporal - que limita demarcações de terras indígenas às ocupadas pelos povos originários até a promulgação da Constituição de 1988 - e os casos de invasão de terras. E manifestou preocupação com um acampamento do MST instalado em Hulha Negra, às margens da BR-293. “Chegamos, neste ano de 2023, à maior degradação dos direitos que asseguram ao proprietário rural alguma possibilidade de defesa de sua propriedade”, complementou o diretor jurídico da Farsul, Nestor Hein.

O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, apresentou informações como o crescimento de 1,5% na área plantada e 8,1% na produção de grãos na safra 2022/2023 em relação à anterior. Já para a temporada 2023-2024, a projeção é de área 1% menor e produção com alta de 30,6% em comparação com a do ciclo passado.

Da Luz pontuou que a falta de logística estrangula o escoamento da produção nacional e defendeu investimentos em infraestrutura. Destacou que a economia está desacelerando, com grau elevado de inadimplência do consumidor (44%), redução no volume de serviços e aumento de pedidos de recuperação judicial. O especialista ainda desaconselhou produtores a se endividarem, neste momento, para investir. “Nenhum investimento é mais importante do que ter caixa”, salientou.

Por fim, Gedeão e o primeiro vice-presidente da Farsul, Elmar Konrad, reconheceram a resiliência do produtor gaúcho: "para ser produtor, hoje, o sujeito tem de ser meio mágico em várias situações", disse Konrad. Gedeão completou: "o governo federal só pensa em aumentar tributos. A reforma mais importante, que ainda não foi feita, muito mais importante do que a reforma tributária (aprovada pelo Congresso), seria a administrativa".

Participação gaúcha na COP 28

Gedeão Pereira fez questão de abrir o evento citando a participação da federação, juntamente com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 28), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, no início de dezembro. "Lá, se apresentou a grande questão do momento", disse Gedeão, referindo-se à necessidade de garantir o abastecimento mundial com segurança alimentar, segurança energética e de segurança ambiental.

Segundo o diretor vice-presidente e coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Farsul, Domingos Lopes, o destaque do Rio Grande do Sul, na conferência, esteve no campo ambiental. "O Estado é o maior exemplo de sustentabilidade do mundo. Não é a Farsul que diz isso, mas organismos como a FAO (sigla, em inglês, para Food and Agriculture Organization, ou Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura)”.


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