Lentidão em programa de crédito fundiário preocupa produtores

Lentidão em programa de crédito fundiário preocupa produtores

Análise de propostas do Terra Brasil encaminhadas pelo setor empaca em Superintendência do Mapa no Estado, diz Fetag-RS

Patrícia Feiten

O agricultor Jonas Bailke Dietze, de Arroio do Tigre, tenta há quase um ano financiamento para comprar área arrendada

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A morosidade na análise de propostas do Terra Brasil – Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), que financia a compra de imóveis rurais para agricultores sem acesso a terras ou donos de pequenas áreas, vem gerando angústia entre os produtores. O assunto será tema de audiência pública híbrida da Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca e Cooperativismo da Assembleia Legislativa, em Porto Alegre, hoje, às 10h, a pedido da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado (Fetag-RS).

Financiado com recursos do Fundo de Terras e da Reforma Agrária, o programa Terra Brasil é um estímulo para a geração de renda no campo e o fortalecimento da agricultura familiar. As propostas são encaminhadas por meio dos sindicatos de trabalhadores rurais.

Segundo o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária Gaúcha e proponente da audiência, deputado Elton Weber (PSB), o principal gargalo está na etapa estadual. Dos 591 projetos de produtores já cadastrados para acesso às linhas de crédito do programa, de acordo com a Fetag-RS, 319 aguardam análise da Unidade Gestora Estadual (UGE), a cargo da Superintendência Federal da Agricultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Estado. Alguns estão na fila de espera há mais de cinco meses. “(A unidade) não tem servidores suficientes para atender à demanda. O produtor consegue a terra, acerta com o vendedor, faz o projeto, e ele fica parado”, afirma o presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva.

A superintendente do Mapa no Estado, Helena Rugeri, explica que há uma grande demanda no PNCF. “(Isso) num cenário de mudança de sistema e de procedimentos, que ocorreu em 2021, e com grande percentual de reanálise de projetos”, observa. Segundo Helena, a meta para 2022 era examinar 200 propostas. “Até junho foram encaminhados 477 projetos na plataforma Lecon, através dos parceiros FETAG, Prefeitura de Canguçu e EMATER, sendo que 198 já foram concluídos pela equipe da UGE”, afirma.

Do total de propostas informado pela Fetag-RS, 15 estão sob avaliação do Departamento de Gestão do Crédito Fundiário (Decred) da Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Mapa, em Brasília, e 82 esperam pela etapa final, a análise financeira do Centro de Apoio aos Negócios e Operações de Logística (Cenop) do Banco do Brasil, em Curitiba (PR). O restante ainda está em fase de elaboração.

Movido pelo sonho de conquistar o “primeiro pedaço de chão”, o agricultor Jonas Bailke Dietze, de Arroio do Tigre, apresentou sua proposta de crédito há quase um ano. Ele busca financiamento de cerca de R$ 150 mil para adquirir uma área de 7,5 hectares que arrendou no ano passado, para o cultivo de soja, milho, fumo e trigo. Segundo Dietze, o projeto já chegou à etapa de análise financeira, mas desde abril ele não recebe mensagens no celular sobre o andamento do processo. “A ideia não era arrendar (a terra) de novo, era já estar plantando em cima do que é meu”, lamenta o agricultor. Com a demora, ele teme perder o negócio para outros potenciais compradores. “Comprei (a terra) barato, hoje, os preços estão mais altos. A gente fica ansiado, tem noites que nem dorme”, relata.


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