Nova linha do BNDES terá efeito limitado no agro

Nova linha do BNDES terá efeito limitado no agro

Com aporte de R$ 4 bilhões, modalidade do BNDES se destina a quem tem receitas em dólar e deve beneficiar grandes agricultores

Patrícia Feiten

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O aumento de repasses para a linha de crédito rural em dólar com taxa fixa, desenvolvida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), terá um impacto limitado no setor, avaliam lideranças do agronegócio. Voltada à aquisição de máquinas e equipamentos agrícolas, a modalidade foi lançada pelo governo federal no mês passado e, nesta terça-feira (9), teve seus recursos dobrados após sondagens com agentes financeiros participantes da Agrishow, realizada na semana passada em Ribeirão Preto (SP). Com isso, o total disponibilizado para financiamento chegará a R$ 4 bilhões.

Para o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Pedro Estevão, esse montante é pequeno quando comparado à demanda do mercado – no ano passado, as vendas de maquinário agrícola em todo o país geraram uma receita de R$ 90 bilhões –, mas traz um aceno positivo para o setor. “Não resolve o problema, mas você começa a abrir o mercado. (Sinaliza que), se precisar de mais dinheiro, o BNDES é capaz de buscar mais recursos”, diz Estevão.

De acordo com o banco, o protocolo de operações da linha será aberto no próximo dia 16 aos agentes financeiros credenciados a repassar os recursos aos clientes. Para receber o crédito, o agricultor deve ter receitas em dólar ou atreladas à moeda norte-americana. O custo final partirá de cerca 7,59% ao ano, acrescidos da variação cambial, e os prazos vão de 25 a 120 meses, com carência de até 24 meses. Por essas características, avalia Estevão, a linha deverá contemplar apenas grandes produtores rurais, especialmente nos segmentos de soja, cana-de-açúcar, algodão, laranja e café. “É uma alternativa a mais e tem uma grande qualidade: não tem subvenção do governo. Em teoria, sobra mais dinheiro para subvencionar os que não têm recebíveis em dólar, o pequeno e o médio agricultor”, destaca o executivo.

No caso do Rio Grande do Sul, o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Estado (Simers), Cláudio Bier, avalia que o impacto da nova linha é pequeno. “A grande maioria (dos produtores) vende para empresas ou para cooperativas. Então, é uma operação muito elitizada”, afirma. O empresário também considera altos os custos envolvidos na operação, o que poderia torná-la pouco atrativa mesmo para grandes agricultores.

Segundo Bier, as expectativas para impulsionar negócios com máquinas agrícolas agora se voltam para o Plano Safra 2023/2024, que deve ser anunciado até o final de junho. O empresário diz que, na próxima, pretende solicitar uma audiência com o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta. O objetivo é pleitear recursos para as linhas de crédito do programa destinadas a investimentos pelos pequenos e médios produtores.


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