Ocorrências de ferrugem asiática disparam no RS

Ocorrências de ferrugem asiática disparam no RS

Atraso na semeadura da soja devido à alta umidade abre espaço para o aparecimento precoce da doença até mesmo em plantações de regiões mais frias

Correio do Povo

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O excesso de chuva que atrasou a semeadura das lavouras de soja impulsiona as ocorrências de ferrugem asiática no Estado. Segundo o chefe do Departamento de Defesa Vegetal da Secretaria da Agricultura (Seapi), Ricardo Felicetti, das 43 áreas acompanhadas pelo Programa Monitora Ferrugem RS, na safra 2023/2024, cinco apresentaram esporos do fungo Phakopsora pachyrhizi. A região de maior incidência é a Central, seguida pela Sul e pela Nordeste, onde, tradicionalmente, as temperaturas são mais baixas que as demais.

Apesar de o cenário já ser esperado em ano de El Niño, o fato de 12% das lavouras monitoradas registrarem esporos acende um alerta para a necessidade de alternar a aplicação dos fungicidas. “O fungo é muito muito hábil em driblar os produtos, problema que motiva preocupações. A alternância é mais importante que a intensificação no uso do mesmo fungicida, o que induz o fungo à resistência”, alerta Felicetti.

Segundo a pesquisadora da Embrapa Soja, Cláudia Godoy, a resistência está maior devido a uma recente mutação no fungo, que influencia, especialmente, a eficiência dos ativos protioconazol e tebuconazol (IDM). Por isso, ela orienta que os fungicidas com esses ativos sejam utilizados em rotação e sempre com a adição de fungicidas multissítios - que têm atuação em vários pontos do fungo. “Outro alerta é para que a realização do controle químico seja já no início do surgimento dos sintomas, mesmo que observados no período vegetativo, respeitando o intervalo de aplicação de 14 dias entre as aplicações”, reforça Cláudia.

Conforme o Consórcio Antiferrugem, da Embrapa Soja, o Rio Grande do Sul contabilizou 51 relatos de ferrugem asiática somente em janeiro, 96% dos quais antes da fase de enchimento de grãos. Outros 37 foram registrados em dezembro de 2023, totalizando 88 ocorrências nesta safra. O número é exatamente o dobro das 44 ocorrências de toda a safra 2022/23 e quase seis vezes maior que as 15 da safra 2021/22, ambas cultivadas sob estiagem. Entretanto, ainda é menor que os 122 relatos acumulados no ciclo 2020/21.

Chuvas irregulares preocupam sojicultores

Os sojicultores gaúchos estão apreensivos quanto às condições climáticas. Com a última chuva forte registrada em 16 de janeiro, há grande evapotranspiração e até sintomas de deficiência hídrica em períodos mais ensolarados. “Não é a condição ideal, por isso, existe uma tensão. Já se observa a planta se protegendo devido às altas temperaturas”, relata o agrônomo da Emater/RS-Ascar, Alencar Rugeri. Com chuvas irregulares e mal distribuídas, o especialista afirma que o sojicultor já não entra o mês de fevereiro com o mesmo ânimo de janeiro.

Contudo, Alencar Rugeri lembra que condições adversas climáticas são esperadas durante o cultivo. Segundo o Informativo Conjuntural da Emater-RS/Ascar desta semana, o cenário ainda não compromete a produtividade. “As lavouras conservaram seu potencial produtivo. Devido ao escoamento superficial, uma parte considerável do volume precipitado (em 16 de janeiro) não foi retida no solo, especialmente em áreas com baixa cobertura de palha, nos solos de menor profundidade e nas topografias onduladas”, detalha o boletim.


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