Oferta ampla derruba preços do milho

Oferta ampla derruba preços do milho

Previsão de produção recorde, inclusive para safrinha do cereal, recuperação de estoques globais e dólar em queda reforçam pressão de baixa

Patrícia Feiten

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Os preços do milho devem seguir em trajetória de queda nos próximos meses, avaliam analistas de mercado. Após romper a marca dos R$ 100 em março do ano passado com a eclosão da guerra na Ucrânia, um dos maiores produtores mundiais do cereal, as cotações da saca de 60 quilos vêm recuando nas principais praças do país. Hoje, o grão é negociado a R$ 60,46 em Campinas, de acordo com o Indicador Esalq/BM&F Bovespa, e R$ 61,75 no Rio Grande do Sul, com base no levantamento semanal da Emater/RS-Ascar. A pressão de baixa vem principalmente da oferta, diante da expectativa de safra recorde no Brasil e boa colheita também em outros países.

O economista Paulo Molinari, da consultoria Safras & Mercado, explica que o declínio dos preços se deve a fatores internos e externos. No plano doméstico, há a necessidade de viabilizar a estocagem da soja nos armazéns. “Uma safra recorde (da oleaginosa), dificultando a logística e com forte queda de preços, traz a tentativa de retenção pelo produtor e a utilização do milho para caixa ou para encontrar espaço para a soja. Quem está forçando a venda a preços baixos é o próprio produtor, pois deseja apostar na soja”, afirma Molinari.

No cenário internacional, segundo o analista, a China também deverá ter uma safra recorde de milho neste ano, enquanto os Estados Unidos estão ampliando a área cultivada em 1,6 milhão de hectares, com ótimo ritmo de plantio e a perspectiva de plena recuperação de estoques. “Isso traz baixas para a CBOT (a Bolsa de Chicago), com reflexos para o Brasil”, diz Molinari. Ele recomenda que os produtores monitorem o clima nos EUA e busquem liquidez na exportação, como alternativa para escoamento dos excedentes de milho. “A questão é que safras cheias derrubam preços. (O milho) somente não seguirá em queda se houver um fato novo, como uma supergeada no Paraná ou fortes chuvas nos EUA”, avalia o economista.

A analista Carla Ferronato, da Corretora Mercado, também vê espaço para mais recuo ao longo de maio e nos próximos meses. Nas regiões produtoras gaúchas monitoradas pela empresa, as cotações do cereal caíram de 10% a 12% em abril. Além da desvalorização do dólar, hoje cotado abaixo de R$ 5, com queda acumulada de 6,2% no ano até 10 de maio, a previsão de colheita recorde de milho safrinha no Centro-Oeste reforça a tendência de baixa, observa Carla. “A recomendação para quem tem milho para vender é segurar um pouco neste momento, acompanhar o (comportamento do) dólar. Para quem utiliza milho para ração, é ir comprando aos poucos, não fazer grandes volumes, porque a tendência é (o preço) baixar”, destaca.

No caso dos produtores de milho, a orientação de cautela na venda dos estoques também leva em conta o possível lançamento de leilões de Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) e Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o Mato Grosso, maior produtor brasileiro do cereal. Esse tipo de operação é utilizado quando a cotação de mercado de um produto está abaixo do preço mínimo de garantia fixado pelo governo federal. “Então, a tendência é que dê uma aumentada no valor. Minha sugestão é que (o produtor) segure um pouco, porque pode ter ganhos com esses leilões”, observa Carla.


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