Passagem de novo ciclone preocupa produtores

Passagem de novo ciclone preocupa produtores

Moradores de regiões mais afetadas por evento de junho ainda se reorganizam para reverter prejuízos com hortaliças e frutas

Patrícia Feiten

Ciclone destruiu estufas do produtor Cid Amaral, que cultiva morango, hortaliças e verduras no município de Caraá

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O ciclone extratropical que deve atingir o Rio Grande do Sul a partir desta quarta-feira (12) – o terceiro em menos de um mês – deixa produtores rurais em estado de alerta. A chegada do novo evento preocupa principalmente os residentes na Região Metropolitana e no litoral, áreas que foram fortemente impactadas pelo ciclone do dia 15 de junho passado. Segundo o gerente regional da Emater/RS-Ascar, Elias Davi Kuck, o primeiro ciclone resultou em diferentes cenários de dificuldades para a agricultura, sendo o mais preocupante verificado nos municípios de Maquiné e Caraá, com plantações devastadas, estradas bloqueadas e queda de pontes.

Nestes, o setor mais prejudicado, diz o extensionista, foi o de hortaliças. “Os produtores que não tiveram a sua propriedade destruída, que foram poucos, estão fazendo replantios, preparando o solo e tentando dar continuidade (ao trabalho)”, afirma. “Principalmente em Maquiné, o pessoal que plantava nas áreas mais baixas teve aterramento das lavouras ou a retirada do solo (pela enxurrada)”, destaca. Como a produção de hortigranjeiros envolve cultivos de ciclo curto, os agricultores não costumam financiar as plantações por meio de programas federais como o Pronaf e, portanto, não são cobertos por seguro rural. “Nos preocupa bastante essa previsão de inverno com eventos desse tipo”, observa Kuck, referindo-se à expectativa de chuvas intensas nos próximos meses, em razão do retorno do fenômeno El Niño.

Ainda traumatizado pelos últimos eventos climáticos, o produtor Cid Elon Amaral, de Caraá, acredita que levará um ano para recompor sua propriedade e reverter os prejuízos sofridos. Cercado por rios, o município situado entre a Serra Gaúcha e o Litoral Norte foi um dos mais afetados pelo ciclone de 15 de junho, tendo registrado cinco mortes e 250 desalojados. Amaral, que planta hortaliças e verduras e também cria gado de corte em uma fazenda próxima ao Rio dos Sinos, diz que a maior parte de sua produção vegetal foi atingida. “A gente nunca tinha presenciado isso, uma cheia tão alta, encheu tudo muito rápido”, relata.

O agricultor conta que há um ano decidiu iniciar o cultivo de 10 mil pés de morango no sistema semi-hidropônico – um tipo de agricultura suspensa em que as mudas são implantadas em sacos plásticos preenchidos com substrato (terra), mantidos sobre uma bancada – e vinha obtendo bons resultados. Das cinco estufas usadas no processo, apenas uma não foi destruída pela chuva. “As mudas que ficaram rolando aqui na volta a gente está tentando reorganizar para plantar de novo, porque são muito caras, R$ 2 reais cada”, explica Amaral. A enxurrada também arrasou as plantações de abobrinha, pimentão e hortaliças. Enquanto aguarda o ciclone previsto para esta semana, o produtor afirma que há pouco a fazer para evitar novos estragos. “Os animais a gente retira, bota num lugar mais alto”, diz.


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