Prazo apertado para financiamentos pode prejudicar produtores

Prazo apertado para financiamentos pode prejudicar produtores

Projeto do Congresso Nacional (PLN1), aprovado no dia 28 de abril, ainda aguarda sanção presidencial para liberar recursos do Plano Safra 2021/2022

Patrícia Feiten

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Após dois meses de espera pela aprovação do Projeto de Lei do Congresso Nacional nº 1 (PLN 1/2022), que ocorreu na sexta-feira passada (28 de abril) e garantiu uma verba extra de R$ 868 milhões para destravar o Plano Safra 2021/2022, os produtores rurais se veem em uma nova corrida contra o relógio. Como a medida ainda aguarda sanção presidencial e os financiamentos no âmbito do plano só poderão ser contratados até o dia 30 de junho, o prazo apertado pode prejudicar quem precisa comprar insumos para o plantio da safra de inverno, que em algumas regiões gaúchas começa na segunda quinzena de maio. Há preocupação também com efeitos da nova elevação da taxa básica de juros da economia (Selic).

Desde o início de fevereiro, as linhas subsidiadas do Plano Safra estão suspensas por falta de recursos, no Orçamento da União, para bancar a equalização de taxas das operações. Assim que o PLN1 for sancionado - o prazo para isso é 15 dias úteis após a aprovação -, será preciso aguardar ainda a notificação do Tesouro Nacional às instituições financeiras para a reabertura nos financiamentos. O economista da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (FecoAgro/RS) e coordenador da Câmara Setorial do Trigo, Tarcisio Minetto, diz que os bancos precisarão ser ágeis. “Acredito que as carteiras dos bancos já tenham as propostas solicitadas, muitos produtores já encaminharam”, afirma.

Minetto lembra que os agricultores gaúchos estão descapitalizados em razão da quebra da safra de verão causada pela estiagem e, neste ano, arcarão com custos de produção 50% mais altos no plantio de inverno. A demora na liberação dos recursos, alerta o economista, ameaça “frear” os planos de expansão da área cultivada com trigo no Rio Grande do Sul.

O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, observa que, na falta de caixa, muitos triticultores já recorreram a financiamentos a juros de mercado, mais altos na comparação com o chamado crédito rural com recursos controlados - para grandes produtores, as linhas do Plano Safra 2021/2022 têm taxa de 7,5% ao ano. Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou a taxa Selic de 11,75% para 12,75% ao ano, o que impactará os custos dos empréstimos. “Vamos ter dinheiro mais caro, tanto para o (crédito) controlado quanto para o livre”, prevê Da Luz. Com base na relação entre juros ao produtor e a Selic em anos anteriores, o economista projeta que as taxas do Plano Safra 2022/2023 subam para 9,5% ao ano.

Para o diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, o cenário de definição do plano, que deve ser anunciado em junho, nunca foi tão complexo, em razão dos problemas climáticos enfrentados pelos agricultores em todo o país, do aumento dos custos de produção e das incertezas trazidas pela guerra entre Rússia e Ucrânia. “O setor está imbuído neste momento em discutir com o governo a ampliação dos recursos de equalização, para termos taxas de juros pelo menos abaixo das duas casas”, diz Lucchi. No lançamento do Plano Safra 2021/2022, o Tesouro destinou R$ 13 bilhões à equalização de juros. Neste ano, o setor avalia que seriam necessários R$ 22 bilhões.


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