Preço do boi gordo acentua queda

Preço do boi gordo acentua queda

Grande oferta e demanda fraca, aliadas à redução de preços da carne bovina exportada à China, pressionam cotações para baixo, avalia NESPro

Patrícia Feiten

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As cotações do boi gordo seguem em declínio no mercado doméstico. No Rio Grande do Sul, o preço do quilo comercializado a peso vivo recuou mais 2,6% nesta semana, para R$ 7,35, de acordo com o levantamento divulgado nesta quinta-feira (17) pelo Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Nos últimos 70 dias, a queda acumulada é de cerca de 20%, refletindo, principalmente, a retração do consumo de carne bovina tanto em nível nacional quanto internacional.

“Nos últimos cinco anos, esta é a maior queda no preço do boi num período tão curto”, destaca o professor Julio Barcellos, coordenador do NESPRO, observando que o declínio se acentuou nos últimos 20 dias. A tendência também é captada em outros levantamentos, como o Indicador do boi gordo CEPEA/B3, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Baseado no mercado paulista, o indicador recuou 9,3% na primeira quinzena de agosto, a retração mais forte já registrada pela série histórica da pesquisa para a primeira metade de um mês desde dezembro de 2008.

Segundo Barcellos, a perda de valor do boi gordo é explicada, em parte, pela grande oferta de gado em todo o país, em razão da preparação das propriedades rurais para o plantio da safra de verão, que começa em setembro. Também pesa nesse cenário a diminuição dos preços pagos pela China, principal importador da carne bovina brasileira. “Os estoques de alimentos estão bons no mundo, não há mais aquela euforia de estocar alimentos. Os consumos ficam mais equilibrados, sem grandes ciclos de alta”, diz Barcellos.

Além disso, afirma o professor, a redução dos preços da carne de frango vem levando consumidores a migrar para essa proteína. Com quedas de 2,64% e 2,27% em julho, respectivamente, o frango em pedaços e o frango inteiro foram alguns dos itens que mais contribuíram para a deflação de 0,46% do grupo alimentação e bebidas que compõe o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período.

As cotações do boi gordo também estão em baixa nos vizinhos Uruguai, Argentina e Paraguai, segundo o coordenador do NESPro. No mercado interno, a preocupação com uma possível continuidade da tendência estimula ainda mais a oferta. “No Brasil Central, esses preços caíram bastante, e isso acaba repercutindo no Rio Grande do Sul. O quilo do boi no estado de Rondônia, por exemplo, está abaixo de R$ 6”, compara Barcellos. Para o professor, esse recuo deve persistir até o final de setembro. “Isso talvez só seja revertido a partir de outubro, quando essa grande oferta de gado se minimizar e aí já com aumentos do poder aquisitivo (do consumidor)”, avalia.


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