Preço do trigo acumula queda de 27% no ano

Preço do trigo acumula queda de 27% no ano

Incerteza sobre tamanho do impacto das chuvas na produção gaúcha paralisa negociações do cereal, diz analista

Patrícia Feiten

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O mercado de trigo encerrou a primeira quinzena de setembro com preços em baixa, em um movimento puxado pela queda acentuada das cotações no Paraná. Enquanto a tonelada do cereal recuou 18% na média das regiões produtoras desde o início do mês, no Rio Grande do Sul a redução ficou próximo de 5%, de acordo com levantamento do economista Elcio Bento, da consultoria Safras&Mercado. No Estado, as negociações da commodity estão travadas e os últimos relatos indicaram compras fechadas pelo patamar de R$ 1,1 mil a tonelada.

Desde o início do ano até a primeira metade de setembro, os preços do trigo acumulam queda de 27% no Rio Grande do Sul e 42% no Paraná, calcula Bento. A disparidade entre os dois estados, que juntos respondem por mais de 90% do trigo produzido no Brasil, é explicada pela sazonalidade de oferta e pelo fator climático. “No Paraná, até agora a safra está sendo colhida num ritmo bem forte e não houve grandes perdas. Os gaúchos já têm lavouras prejudicadas pelo excesso de chuva e, olhando-se os mapas pluviométricos para os próximos meses, parece pouco provável que a safra consiga passar ilesa”, compara o consultor.

No caso do Rio Grande do Sul, segundo Bento, a incerteza quanto ao tamanho do impacto das precipitações frequentes e intensas na produtividade e na qualidade do grão paralisaram as negociações. A chuva prolongada é associada ao retorno do fenômeno El Niño. “O que conta a favor das lavouras gaúchas é que há muito pouco trigo pronto para colher. O produtor eleva seus pedidos; os moinhos estão relutantes em comprar porque a percepção é que, se os preços no Paraná continuarem caindo, logo será possível eles comprarem do Paraná”, avalia Bento.

De acordo com dados da Emater/RS-Ascar, a maior parte das lavouras de trigo gaúchas está nas chamadas fases reprodutivas, sendo 41% na etapa de floração e 34% na de enchimento de grãos. O restante está em desenvolvimento vegetativo (19%) e maturação (6%). A área cultivada no ciclo 2023 é estimada em 1,5 milhão de hectares, com uma expectativa de colheita de 3.021 quilos do cereal por hectare.

Diante da sequência de chuvas no Estado, representantes da empresa de assistência técnica e entidades de agricultores vêm manifestando preocupação com acamamento de plantas e probabilidade de aumento da ocorrência de doenças fúngicas, especialmente nas espigas, o que compromete o desenvolvimento dos grãos e seu uso na produção de farinha, derrubando as cotações. “Se tiver trigo no Rio Grande do Sul de baixa qualidade, ele vai ter de ser vendido para o mercado internacional e até para (a indústria) de ração animal. O trigo de boa qualidade vai ficar mais valorizado, mesmo assim a gente tem uma tendência de preços em baixa”, diz Bento.

Segundo o analista, o cenário interno também é influenciado pelos preços internacionais. Na Argentina, por exemplo, as cotações atuais do cereal são 20% inferiores às do mesmo período do ano passado. Na Bolsa de Chicago (CBOT), a queda na mesma base de comparação é de 26%. “A gente tem um cenário internacional de preços mais acomodados. Uma safra cheia (no Rio Grande do Sul) achataria ainda mais os preços. Mas a gente sabe que a safra não deve ser cheia, isso já deve reduzir um pouco o impacto baixista das cotações”, prevê Bento.


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