Problemas climáticos trazem preocupações para safra de arroz

Problemas climáticos trazem preocupações para safra de arroz

Expectativa é que exportações, oferta menor e apoio do governo ajudem a subir o preço

Danton Júnior

Problemas climáticos trazem preocupações para safra de arroz

publicidade

As baixas temperaturas ocorridas na primeira metade de fevereiro trouxeram uma preocupação extra aos produtores de arroz de algumas regiões que já haviam sofrido com problemas climáticos no início da semeadura. O chamado "frio de carnaval", que não dava as caras há alguns anos, fez com que o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) refizesse os cálculos da produção gaúcha, prevendo uma quebra de 9,7% em relação ao ciclo anterior. A esperança dos arrozeiros, que já sofrem com o preço da saca abaixo do custo de produção, é de que a retomada das exportações e as intervenções do governo, somadas à redução na oferta, ajudem a dar sustentação à cotação do cereal durante o segundo semestre deste ano.

A perspectiva de queda na produção e a rentabilidade da atividade pautaram a 28ª Abertura da Colheita do Arroz, que encerrou-se sexta-feira, em Cachoeirinha. Em razão do atraso do plantio, provocado pelo excesso de chuvas na época da semeadura, o frio atingiu o arroz num momento em que a maioria das lavouras encontra-se em estágio reprodutivo. Em Camaquã, no Sul do Estado, a lavoura do produtor Frederico Bartz Menezes (foto acima) chegou a enfrentar temperaturas de 13 graus Celsius no início de fevereiro. Porém, o agricultor mantém a expectativa de conseguir boa produtividade - em torno de 9 mil quilos por hectare - nos 550 hectares que cultivou, ao contrário do que ocorreu com alguns vizinhos, que vão encarar perdas. Já a lavoura de soja de Menezes, com 640 hectares, está mais prejudicada e pode sofrer quebra de 20% devido a um período de 47 dias sem chuva.

O grande problema, segundo Menezes, continua sendo a relação entre o custo de produção e o preço pago pela saca. Hoje o produtor recebe R$ 37, valor insuficiente para cobrir os custos, calculados em cerca de R$ 40 por saca. Além disso, a colheita, que se intensifica no início de março, deve contribuir para achatar ainda mais os preços porque aumenta a oferta. Oriundo de uma família de orizicultores, Menezes não tem planos de reduzir a lavoura no futuro, mas vê o momento atual como o mais crítico do cultivo.

Apesar dos desafios, tanto na semeadura quando no desenvolvimento da lavoura, Menezes afirma ter feito a lição de casa: conseguiu plantar na época recomendada de plantio, utilizando sementes certificadas, adubação equilibrada e irrigação "no tempo certo". A realidade não é a mesma para muitos arrozeiros gaúchos, já que, além do clima, a safra atual também sofre com a redução dos investimentos na lavoura, fruto das dificuldades na obtenção de financiamento.

O custo calculado por hectare gira entre R$ 5,5 mil e R$ 6 mil. Isso permite que um orizicultor que tenha boa produtividade consiga, quando muito, "empatar" com a remuneração obtida por saca. "Estamos investindo na lavoura mesmo sem ter retorno, pensando que um dia possa melhorar, mas entra ano e sai ano e a nossa condição segue sempre a mesma", lamenta o produtor. Além de planejar a sua lavoura, Menezes acompanha com atenção as notícias que envolvem o mercado externo. E torce para que a balança comercial seja mais favorável ao produtor gaúcho. "No segundo semestre, se houver exportação de arroz, e com esses mecanismos de PEP e Pepro, o mercado pode ficar relativamente bom para o produtor. Mas se continuar entrando arroz de fora, principalmente do Mercosul, vai ser um ano muito complicado", prevê.

Um cálculo mais preciso sobre perdas desta safra será possível na primeira quinzena de março, quando começam a ser colhidas as lavouras semeadas fora da janela ideal de plantio, que foi até 15 de novembro. "Em 2017, tínhamos uma pequena área plantada até esse período. As chuvas atrapalharam muito, a terra não secava e não conseguíamos entrar para plantar", recorda o produtor Gustavo Flores da Cunha, de Alegrete (foto ao lado). Apesar disso, as lavouras vinham apresentando bom desenvolvimento até a segunda semana de fevereiro, quando as temperaturas começaram a cair. No município da Fronteira-Oeste houve pelo menos três noites com temperaturas abaixo dos 15 graus em pleno verão. "Ainda não dá para mensurar a perda, mas alguma coisa vai ter", afirma o produtor, que tem quase 20 anos na atividade e cultiva uma área de 200 hectares.




Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895