Produtor recupera poder de compra de fertilizantes, aponta Itaú BBA

Produtor recupera poder de compra de fertilizantes, aponta Itaú BBA

Relação de troca do insumo com as principais commodities é a melhor dos últimos cinco anos

Patrícia Feiten

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Apesar da queda acentuada dos preços das commodities agrícolas, a relação de troca – volume de grãos necessário para a compra de uma tonelada de fertilizante – está bem mais favorável aos agricultores atualmente do que na mesma época de 2022. É o que mostra o relatório Radar Agro, da consultoria Agro Itaú BBA. Entre os cultivos destacados no estudo, um dos melhores cenários é apontado para o trigo. As cotações sustentadas do cereal, ainda que em patamares menores que no início deste ano, colaboraram para manter a relação de troca abaixo da média histórica dos últimos cinco anos.

Segundo a analista Annelise Sakamoto Izumi, o Brasil iniciou 2023 com um estoque de passagem de cerca de 8 milhões de toneladas de fertilizantes, volume muito superior ao de anos anteriores, e a oferta ampla tende a reduzir os preços dos insumos. No ano passado, lembra a consultora, a invasão da Ucrânia pela Rússia gerou temores quanto ao suprimento do produto e fez os preços dispararem – o país euroasiático é o principal fornecedor dos adubos usados nas lavouras brasileiras. Essa conjuntura levou as indústrias locais a antecipar suas importações “O produtor comprou menos, porque o preço estava muito mais alto do que o normal, e outras alternativas foram mais utilizadas, por exemplo, bioinsumos”, explica Annelise.

No caso do trigo, na compra de uma tonelada de ureia (adubo nitrogenado) em junho do ano passado, por exemplo, o produtor precisou desembolsar o equivalente a 1,43 tonelada do cereal. Hoje, essa quantidade caiu para uma tonelada de trigo, portanto, abaixo da média dos últimos cinco anos, de 1,24 saca, de acordo com os dados do relatório.

Com relação à soja, para adquirir uma tonelada de fertilizante fosfatado (MAP) há um ano, eram necessárias 30,26 sacas de 60 quilos da oleaginosa e, agora, o agricultor precisa investir apenas 15,12, ou seja, menos que a média histórica, de 21,09 sacas. Na compra de potássio (KCI), a relação de troca no ano passado era de 30,52 sacas para cada tonelada do fertilizante. Neste mês, os produtores precisam investir apenas 11,30 sacas, menos que as 17,26 correspondentes à média histórica para o item. “Esses patamares estão bons desde o começo do ano. Na nossa estimativa, a tendência é de aumento de compras (pelos produtores), de entrega ao mercado de 7% em relação ao ano passado”, diz Annelise.

Para o milho, o relatório do Agro Itaú BBA destaca que a queda de cotações do cereal foi mais intensa do que o ritmo de declínio dos fertilizantes. Segundo o analista Francisco Carlos Queiroz, a previsão de safra recorde no Brasil dificulta uma reação dos preços pagos ao agricultor. “O milho, do começo do ano para cá, caiu quase 40%, e a tendência é que caia um pouco mais, porque está começando a colheita da segunda safra (em outros estados produtores)”, observa.

Mesmo assim, a relação de troca para o cereal está mais favorável do que um ano atrás. Na compra do MAP, o agricultor tinha de desembolsar no ano passado 63,23 sacas de 60 quilos de milho. Hoje, o total necessário caiu para 41,51, muito próximo do patamar histórico de 41,22 sacas. Na mesma base de comparação, as quantidades necessárias para adquirir a tonelada de potássio e de ureia passaram de 63,79 para 31,03 sacas e de 35,78 para 26,01 sacas, respectivamente, frente a médias históricas de 34,08 e de 27,54 sacas.


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