Professora norte-americana destaca agricultura sustentável

Professora norte-americana destaca agricultura sustentável

Em palestra promovida pelo Consulado dos Estados Unidos na Expointer, Jennifer Clarke, da Universidade de Nebraska-Lincoln, falou sobre enfrentamento da mudança climática

Patrícia Feiten

Jennifer abordou agricultura de precisão, desafios e oportunidades de geração de renda representados pela adoção de boas práticas agrícolas

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Conhecido pela sigla AFOLU, em inglês, o setor de agricultura, florestas plantadas para fins comerciais e uso do solo responde por 18,4% das emissões de gases do efeito estufa em termos mundiais. O ranking é liderado pelo setor de energia (geração de energia elétrica, sistemas de aquecimento e transportes), com participação de 73,2% – processos industriais diretos e descarte de lixo e resíduos geram, respectivamente, 5,2% e 3,2% das liberações na atmosfera. Os dados, de um estudo de 2020, foram destacados na sexta-feira (1) em palestra da professora norte-americana Jennifer Clarke sobre mudanças climáticas e agricultura sustentável, durante a programação da 46ª Expointer, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. O evento foi promovido pelo Consulado dos Estados Unidos, no estande do governo gaúcho.  

Enquanto o setor energético tende a diminuir sua fatia nas emissões, com a disseminação de painéis solares e exploração de fontes de energia renovável, por exemplo, a agropecuária se torna um alvo cada vez maior à medida que crescem as preocupações com a mudança climática, disse Jennifer. “Não queremos ser o setor para o qual todos querem apontar o dedo. Por isso, precisamos agir agora e demonstrar que também estamos tentando resolver o problema”, observou. Professora de Ciência e Tecnologia de Alimentos e Estatística e diretora da Iniciativa de Ciências Quantitativas da Vida na Universidade de Nebraska-Lincoln, Jennifer lidera um projeto nacional, em parceria com Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), para desenvolver uma estrutura de dados de produtores agrícolas. 

Em sua explanação, apontou caminhos que possibilitam aos sistemas agrícolas avançarem sob uma perspectiva de descarbonização, em linha com a meta de impedir que o aumento do aquecimento global ultrapasse a média anual de 1,5°C até o fim deste século – o limiar considerado “seguro” pelos cientistas. Entre essas abordagens, destacou a produção sustentável de alimentos, com a adoção de práticas capazes de reduzir emissões e, ao mesmo tempo, atender à demanda de consumo; os esforços para conservar e expandir recursos naturais que absorvem e capturam o dióxido de carbono da atmosfera, como florestas e turfeiras; e o uso de tecnologia no campo.  

Ao abordar o papel da agricultura de precisão nesse cenário, Jennifer destacou soluções para melhorar a sustentabilidade da lavoura. “Sabemos que os sistemas de produção e o meio ambiente irão mudar dependendo do momento e do local. A ideia é usar estratégias de manejo em que, em vez de focar um sistema de produção que cobre grandes extensões de terra e fazer tudo uniformemente, possamos adotar taxas variáveis, gerenciar diferentes áreas neste grande sistema de produção”, observou.

Segundo a professora, os avanços tecnológicos – como soluções de robótica, sensores que mensuram o que está acontecendo no campo e sistemas baseados em inteligência artificial – não são apenas aliados para aumentar a eficiência no campo, mas também uma resposta à falta de mão de obra nas propriedades rurais. “A grande maioria das pessoas vive nas áreas urbanas, não acredito que isso vá mudar tão cedo. Há muitas fazendas grandes onde a alimentação dos animais é automática, com cochos automáticos. Então, você pode usar sistemas automatizados para substituir o trabalho humano”, exemplificou.

Jennifer também incentiva a participação dos produtores rurais nos mercados de créditos de carbono, vista como uma forma de recompensar a adoção de boas práticas agrícolas. “Mas muitos dos problemas na agricultura sustentável envolvem mais do que os mercados de carbono. Você precisa mostar que pode produzir coisas diferentes que também trarão receita (…), outras maneiras de gerar renda a partir dessa mudança”, disse.

 


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