Remates de outono confirmam recuo dos preços

Remates de outono confirmam recuo dos preços

Temporada de vendas de terneiros destaca desempenho de animais de alta genética e grande procura por fêmeas

Patrícia Feiten

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Em linha com as expectativas do mercado de reposição, a tradicional temporada de remates de outono se aproxima do final com um balanço positivo dos negócios traçados nas pistas. Iniciado ainda sob o impacto da estiagem que afetou a agropecuária gaúcha no verão, o período foi marcado por liquidez dos animais ofertados, tanto nos leilões particulares quanto em feiras do calendário oficial da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), e alta procura pelas fêmeas, de acordo com profissionais do setor. Os eventos também sinalizaram um retorno dos preços aos patamares históricos, após os valores recordes atingidos na mesma época de 2021.

Segundo o professor Julio Barcellos, coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), a temporada de outono revelou um ágio (sobrepreço médio) de 15% a 25% do preço do terneiro em relação ao boi gordo. “Isso significa um comportamento um pouco diferente do que aconteceu ano passado, que foi o pico do preço da produção de terneiros”, avalia o professor. Ele observa que a queda no consumo de carne bovina no país impediu um avanço maior do boi. “Isso apontava para uma situação de que os preços do terneiro não seriam de 30% a 40% (superiores), como muitos estimavam”, explica Barcellos.

Outro aspecto marcante da temporada que se encerra foi o aumento da qualidade dos animais comercializados na comparação com anos anteriores, um efeito da tendência de redução dos ciclos produtivos na pecuária. “Com toda a seca, foi para o mercado um terneiro de alta qualidade, e isso significa que o pecuarista está cuidando um pouco mais da questão da produtividade, buscando entregar ao recriador e terminador um animal mais pesado”, afirma Barcellos.

O diretor da Trajano Silva Remates, Marcelo Silva, confirma o bom desempenho dos animais de alta genética, com base no resultado de cerca de 200 remates promovidos de janeiro até maio. Na média de todas as categorias negociadas, os preços caíram de 10% a 15%, mas o impacto dessa queda foi menor entre os animais de padrão racial definido. “Ficou muito evidente que o gado de qualidade se vendeu com muito mais facilidade que o cruzado”, afirma Silva. Segundo o leiloeiro, os leilões estabeleceram preços de R$ 13,50 a R$ 14 para o quilo vivo do terneiro, ante R$ 15 da temporada passada. “Acreditamos que já na primavera (ocorra) uma reação em todas as categorias, que vão recuperar os patamares do ano passado”, avalia Silva. 

O leiloeiro Enio Dias dos Santos, da EDS Remates, de Caçapava do Sul, diz que os remates realizados na região confirmaram as projeções de ágio de 15% a 30% sobre a cotação do boi gordo. Em média, foram colocados em pista animais com peso de 180 a 200 quilos, informa Santos, e a temporada apontou a paridade de preços entre machos e fêmeas, tendência já observada nos últimos dois anos em razão da retenção de matrizes. “Também influencia a procura por fêmeas jovens o fato de que esse produto, num curto espaço de tempo, é um ventre a ser ofertado tanto no mercado de terminação quanto o de reprodução”, explica.


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