RS reabre debate sobre suspensão de vacinação contra a febre aftosa

RS reabre debate sobre suspensão de vacinação contra a febre aftosa

Criadores do Estado querem recuperar “status” de zona livre sem imunização pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE)

Patrícia Meira / Correio do Povo

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Após dez anos da última tentativa frustrada, o Rio Grande do Sul reabriu nesta terça-feira o debate sobre a suspensão da vacinação contra a febre aftosa para obter da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) o “status” de zona livre sem imunização. Os setores público e privado pretendem estabelecer planejamento, mas, só após a definição de metas intermediárias, haverá condições de fechar um cronograma. A primeira etapa da campanha de vacinação contra a febre aftosa, encerrada hoje, imunizou 95,66% do rebanho.

Um grupo coordenado pelo Fundesa já trabalha no fortalecimento do sistema de vigilância sanitária. Também ficou resolvido que serão feitas reuniões com produtores em pelo menos 15 municípios em julho, além de encontro com representantes do Uruguai.

“Optamos por um trabalho de base para mostrar que esta é uma meta estadual”, explica o coordenador da FrenteAgro, Jerônimo Goergen. O setor ainda tentará aumentar a verba à defesa sanitária no Orçamento Estadual. De acordo com o presidente do Fundesa, Rogério Kerber, o planejamento deve ser compartilhado e prever responsabilidade de execução para evitar o retorno da doença.

O dirigente enfatiza a disposição em aumentar a contribuição das cadeias produtivas a um fundo para dar maiores garantias em eventos sanitários. Mas cobrou como contrapartida que investimentos públicos hoje feitos na vacinação sejam redirecionados para serviços de vigilância.

Para suspender a vacina, o RS precisa submeter um plano de controle ao Ministério da Agricultura. Se um ano depois, não for registrada a doença, o ministério encaminha à OIE o pedido de reconhecimento.

O chefe do Serviço de Sanidade do Mapa/RS, Bernardo Todeschini, avalia que o Estado evoluiu, não tem circulação viral desde 2002 e apresenta índices de vacinação acima de 90%, condições que o credenciam a dar o primeiro passo. Para ele, o maior desafio é garantir um sistema de defesa reativo ao reingresso do vírus, o que inclui maior controle de fronteira e divisas e equipes de emergência.

Para reduzir o risco de contaminação, o RS deve reforçar o sistema interno de controle, incluindo o aumento do número de fiscais. Segundo o chefe do Serviço de Doenças Vesiculares da Seappa, Fernando Groff, 75% dos 16 pontos exigidos pela OIE para evolução de “status” já são realidade. Mas, considerando a necessidade de adequações e avanços, seriam necessários, pelo menos, dois anos e meio para conseguir o reconhecimento da OIE.

A retirada da vacina expandiria negócios especialmente para a indústria gaúcha de suínos, hoje limitada a mercados marginais e que pagam menos, como a Rússia. A nata acaba ficando com Santa Catarina, único estado livre sem vacinação. No caso da pecuária de corte, ainda há uma gama de mercados a explorar, enfatizou o diretor da Farsul Fernando Adauto.

Já o secretário-executivo do Sicadergs, Zilmar Moussalle, lembrou que as indústrias têm outros limitadores mais importantes como a baixa oferta de matéria-prima. O setor também não quer ficar isolado na região Sul. Santa Catarina é considerada livre de aftosa sem vacinação desde maio de 2007, e o Paraná já apresentou o pedido de retirada da imunização. “Se o Estado vacina eternamente, passa a ideia de que não tem segurança”, enfatiza o secretário Gilmar Tietböhl.

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