Sobra da queima da casca de arroz é usada em pneus

Sobra da queima da casca de arroz é usada em pneus

Carolina Pastl (sob supervisão de Elder Ogliari)

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Não é só a casca de arroz que pode ser reaproveitada dentro do setor industrial. A queima do resíduo gera cinzas, que, se não tiverem um destino correto, também podem ocasionar danos ao meio ambiente. Tendo isso em mente, o Grupo MPC, de Hamburgo, na Alemanha, criou a empresa Oryzasil Sílicas Naturais, no município de Itaqui, em 2017. O objetivo foi aproveitar as cinzas produzidas a partir da queima da casca de arroz para geração de energia na Usina Termoelétrica de São Borja, que pertenceu ao grupo entre 2011 e 2015, e na própria Oryzasil, para a fabricação da sílica precipitada. Atualmente, essa matéria-prima é destinada a empresas que fabricam pneus e artefatos leves de borracha, como autopeças e solados de calçados.
“A Oryzasil nasceu sob o conceito de indústria química moderna, com um processo de produção circular e ambientalmente correto, livre de efluentes e autossuficiente em energia”, afirma o diretor comercial da empresa, Paulo Garbelotto. Isso porque, enquanto a Oryzasil extrai a sílica do silício encontrado nas cinzas da casca de arroz, as indústrias químicas clássicas usam areia ou quartzo, que vêm da mineração, como matéria-prima para a fabricação do mesmo produto.
A sílica precipitada é inserida em etapas da industrialização de diversos produtos. No caso dos pneus, o material entra na composição da borracha das bandas de rodagem. E, além de ser mais sustentável, traz outras vantagens. “O pneu verde, ou pneu de alta eficiência energética, oferece menor atrito com o solo quando o veículo se movimenta. Assim, proporciona economia de combustível que pode chegar a 10% e, proporcionalmente, a redução das emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa liberados pelo veículo”, sustenta Garbelotto. “Além disso, na frenagem, esse mesmo pneu proporciona maior aderência ao solo, o que resulta em maior segurança, principalmente em pisos molhados”, complementa o executivo. 
Ainda que o produto tenha preço mais alto, Garbelotto calcula que um automóvel com quatro pneus verdes que rodem 50 mil quilômetros gere uma economia de R$ 2,5 mil ao motorista, considerando o preço do combustível em R$ 5 o litro – o que seria suficiente para comprar quatro pneus novos.
No momento, a fábrica produz cerca de 5 mil toneladas de sílica precipitada por ano, a partir de 25 mil toneladas de casca de arroz fornecidas por produtores da região. Em cada pneu verde de automóvel se usa cerca de um quilo de sílica. A partir de 2022, a empresa planeja expandir o volume da sua produção em cinco vezes. O investimento total ficará por volta de R$ 250 milhões. Ao todo, 50 empregos diretos são gerados.
Outras empresas, como a Goodyear e a Vipal Borrachas, também têm apostado na área. No caso da norte-americana, a sílica entrou oficialmente no portfólio de materiais no ano passado. Já a gaúcha está investindo por meio do financiamento de estudos, realizados no centro de pesquisa da empresa e em parceria com a Universidade de Caxias do Sul, no Brasil, e a Lodz University of Technology, na Polônia. A pesquisa se encontra na etapa de validação laboratorial interna e deve seguir para testes na fábrica. O pedido de patente do processo já foi solicitado pela Vipal e pelas universidades que participam dos estudos. 

 


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