Soja volta a subir, mas pode ter chegado ao teto

Soja volta a subir, mas pode ter chegado ao teto

Clima, câmbio, lockdowns na China, política argentina e entrada de nova safra brasileira podem influenciar preços da commodity, avaliam analistas

Patrícia Feiten

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Em um efeito da alta de preços de contratos futuros da soja negociados na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT), as cotações da saca de 60 quilos iniciaram a semana em uma tendência de recuperação e voltaram a romper a marca de R$ 190 no Rio Grande do Sul e em algumas regiões do país. Diversos fatores, como questões climáticas e internacionais, poderão impactar os valores da oleaginosa nas próximas semanas, de acordo com analistas.

Para o analista Luiz Fernando Gutierrez, da consultoria Safras & Mercado, de Porto Alegre, a trajetória de alta da soja pode ter chegado ao limite. “Entendo que é o último fôlego do ano, não vejo mais um grande motivo para o preço continuar subindo”, diz. Segundo o consultor, as incertezas trazidas pelo fenômeno La Niña com relação à regularidade das chuvas tanto no Brasil quanto na Argentina devem se refletir no comportamento dos preços ao longo de dezembro. “Se, de fato, for um clima mais seco, a gente pode ver Chicago se aproximando de 15 dólares (por bushel), mas eu não apostaria nisso neste momento”, afirma.

A volatilidade do câmbio também influencia esse cenário, destaca o analista. Uma alta mais firme de preços na Bolsa de Chicago, se acompanhada por uma valorização maior do dólar, pode puxar para cima as cotações da soja no Brasil. Com o ingresso da nova safra brasileira no mercado a partir de janeiro, porém, os preços podem ceder. “É interessante para o produtor que ainda tem soja disponível aproveitar o momento (para vender). E também fechar alguns volumes da safra nova”, recomenda Gutierrez.

O mercado também acompanha com atenção a explosão de casos de Covid-19 na China. As rígidas medidas de isolamento social e lockdown impostas pelo governo vêm desencadeando uma onda de protestos pelo país asiático, principal destino da soja exportada pelo Brasil. “Isso pode impactar muito os nossos preços. Se (a China) fechar novamente, eles vão parar de comprar”, avalia a analista Dalila Bié, da consultoria Tarken, de Belo Horizonte.

Outro fator de pressão sobre os preços é o novo “dólar-soja” introduzido pela Argentina nesta segunda-feira (28). Com o objetivo de estimular as exportações do grão, o governo do país vizinho estabeleceu uma taxa de câmbio preferencial de 230 pesos por dólar para produtores de soja. Em vigor até 30 de dezembro, o incentivo busca ampliar as reservas internacionais e evitar a saída de divisas, em um esforço para cumprir as metas definidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI). “O mercado ainda não digeriu isso, então a gente ainda pode esperar para ver o que pode trazer de impacto no cenário futuro de preços da soja, bem como fatores climáticos”, observa Dalila.


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